Capital

Apta para 28 serviços, alvo da PF tem sede em casa no Jardim dos Estados

Empresa oferece de filmagens de eventos a obras, passando pelo aluguel de máquinas agrícolas, por exemplo, mas endereço dá em casa ‘normal’, acima de qualquer suspeita

Anahi Zurutuza | 21/03/2017 18:08
Casa onde a CM Logística (Foto: Marcos Ermínio)
Casa onde a CM Logística (Foto: Marcos Ermínio)

Aberta em 2008, a CM Logística Engenharia Comércio e Serviço Ltda. tem sede em uma casa na rua Eduardo Santos Pereira, na Vila Gomes – região do Jardim dos Estados –, em Campo Grande, e portanto seria um dos alvos da operação Licitante Fantasma. No local, não há placas indicando que ali funciona uma empresa e nada que demonstre que o endereço é sede de uma companhia com capacidade para prestar 28 tipos de serviços diferentes, de filmagens de eventos a grandes obras.

A vizinhança foi surpreendida na manhã desta segunda-feira (21) com a equipe da Polícia Federal. No endereço, foi cumprido um dos mandados de busca e apreensão.

Vizinhos disseram à reportagem saber que no local funciona um escritório, mas nunca imaginavam se tratar de uma empresa com vários contratos com o poder público e muito menos capaz de trabalhar em ramos tão diversos.

No imóvel, uma funcionária recebeu a equipe do Campo Grande News, mas disse que está proibida de dar qualquer informação a qualquer pessoa, seja da imprensa ou polícia.

Suspeita – O fato da empresa, suspeita de fazer parte de esquema de fraudes em licitações, ser apta, pelo menos no papel, a prestar 28 tipos de serviços em áreas completamente diversas foi um dos que chamou a atenção da CGU (Controladoria Geral da União). Foi o que afirmou o José Paulo Barbiere, chefe do órgão em Mato Grosso do Sul, em coletiva de imprensa na manhã de hoje.

“Tive o trabalho de contar ontem”, ressaltou sobre ter estranhado a situação.

CNPJ da empresa, onde consta a descrição dos serviços que a mesma oferece (Foto: Reprodução)
Ainda na página da Receita, consta o nome do dono da CM Logística (Foto: Reprodução)

Várias funções, vários nomes – Na consulta da Receita Federal pelo CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) da empresa, é possível encontrar CM Logística Ambiental – ME.

Pela busca do Google, o endereço alvo da PF pertence a empresa Ferreira de Macedo Serviços Ltda.

Conforme o registro oficial, a principal atividade econômica da CM Logística são obras de engenharia civil, incluindo a construção de prédios. Contudo, a empresa também, trabalha com limpeza de prédio, em domicílios e de terrenos, paisagismo, monitoramento de sistemas de segurança eletrônico, reparos em computadores e eletrodomésticos, medição de consumo de energia elétrica, gás e água, além de instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias e de gás.

Os trabalhos relacionados a área ambiental são: imunização e controle de pragas urbanas, coleta, tratamento e descarte de resíduos não-perigosos, usina de compostagem.

Pelo que consta no cadastro, a empresa pode atuar ainda no transporte de cargas, aluguel de máquinas agrícolas, perfuração de poços, filmagens de festas e eventos, dentre outros.

Os telefones da empresa também são um mistério. Em contato com o número disponibilizado na internet, a reportagem foi informada que o telefone não pertence a nenhuma empresa. Já o número cadastrado na Receita Federal pertence a um coletor de lixo há um mês, conforme disse o rapaz que atendeu a ligação.

Policiais federais chegando à sede da PF com documentos apreendidos nos locais alvos de busca e apreensão (Foto: André Bittar)

Contratos – Com o leque de funções para as quais está habilitada, a empresa, que teria um único sócio – José Mauro Viganó, conforme consta na consulta da Receita – e capital social de R$ 350 mil, já ganhou contratos em vários cantos do país.

Na página do governo federal onde são publicados dados sobre contratações, a CM Logística aparece como prestadora de serviços para as Embrapas do Mato Grosso e Rio de Janeiro, Incra, Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal de Alfenas (MG) e Receita Federal de Piracicaba (SP).

Operação – Os alvos Licitante Fantasma seriam parte de esquema para fraudar licitações por meio do sistema ComprasNet, mantido pela União, com o objetivo de ganhar os contratos com governos. A CGU e a PF estimam que os envolvidos tenham causado prejuízo de R$ 25 milhões para os cofres públicos.

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