Após sete meses, Roberto e Israel voltam a disputar dominó na Ary Coelho
Com apenas duas entradas, quem adentra praça precisa passar por termômetro e álcool em gel
Sete meses depois, a Praça Ary Coelho reabre dois, dos quatro portões, para o público nesta quarta-feira (28). Sem pipoca e com bancos "demarcados" para ninguém esquecer que ainda estamos em pandemia, a cena clássica na praça resistiu: aposentados jogando dominó.
Quem já tentou abordá-los sabe que eles não são lá muito de conversa, mas hoje, antes das 9h da manhã, seu Roberto esperava o amigo Israel para uma partida de dominó dentro da praça.
Guardados de carro há 15 anos na região da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ele até abriu mão do ofício em dia de novena. "Saio de casa bem cedo pro Centro e ficava sem usar o banheiro", conta Roberto de Souza, de 63 anos. A praça fazia falta não só por dar abrigo às partidas como também pelo uso do banheiro público.
De máscara, ele se senta à espera do amigo adversário e da sacolinha plástica, retira as pedras do jogo. "Estou esperando o opositor para jogar e estrear a reabertura", explica.
Não levou muito tempo, chegou o parceiro do jogo. Israel Martins tem 65 anos, é aposentado e mede mais as palavras. E como quem já chega atrasado, nem o capacete retira e já parte para o dominó.
De volta à Praça, as fotografias devem voltar para as redes sociais da depiladora Lauren Rodrigues. Ela que trabalha ali em frente, na Galeria Dona Neta, pedia para o filho Joaquim, de 4 anos, fazer pose.
"Faz falta, a gente que está aqui no Centro todo dia sente falta de passar por aqui, tomar um sorvete na sombra, trazer as crianças para brincar", comenta.
Com apenas duas entradas, nas esquinas das ruas 14 de Julho com a 15 de Novembro e 13 de Maio com a Avenida Afonso Pena, quem adentra a praça só o faz depois de passar pelo termômetro, limpar as mãos com álcool em gel e caso esteja sem a máscara, ganha uma.
"Acho que abriu na hora certa", disse a dona de casa Jéssica Martins que fez da Praça Ary Coelho um "corta caminho". O trânsito marcou mais a reabertura do que as pessoas aproveitando a praça em si, talvez tenha sido pelas faixas que de longe aparentam proibição, mas no caso é mesmo apenas um alerta, segundo informou um dos funcionários da entrada, para ninguém se aglomerar.
Dentista, Rui Espíndola mora ali na frente, e se espanta com tanto cuidado oferecido para quem entra na Praça, que é aberta e espaçosa em comparação ao público que não mantém distância por exemplo para esperar e entrar no ônibus.
"Bancos com faixa, parquinho todo fechado, academia ao ar livre também. Então, subentende-se que a praça ficou só para trânsito mesmo, mas de que adianta todas as medidas de segurança em uma praça se ali as pessoas estão aglomerando do mesmo jeito?" aponta para o ponto de ônibus. "Não tem necessidade de todas essas medidas", acrescenta.