Capital

Após espera de mais de um ano, "indiozinho" passa por cirurgia

Natalia Yahn | 24/02/2016 10:25
Edemar aguardou durante um ano por cirurgia que foi realizada ontem (23), e agora se recupera no CTI da Santa Casa. (Foto: Marcos Ermínio)
Edemar aguardou durante um ano por cirurgia que foi realizada ontem (23), e agora se recupera no CTI da Santa Casa. (Foto: Marcos Ermínio)

Após esperar por mais de um ano, o “indiozinho” Edemar Gonçalves da Silva, 4 anos, foi submetido na terça-feira (23) a cirurgia cardíaca para corrigir uma anomalia congênita. O procedimento, considerado de grande risco, foi feita pela manhã na Santa Casa – durou aproximadamente 4 horas –, e no período da tarde ele foi internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) Pediátrico – onde aguarda recuperação. 

Edemar ainda corre risco de morte e as primeiras 72 horas são as mais críticas, por isso o hospital ainda não divulgou informações sobre o estado de saúde do garoto – que ainda é delicado e grave. O menino esperava desde dezembro de 2014 pelo procedimento que pode salvar sua vida. 

O hospital informou que por conta da gravidade do caso de Edemar, a cirurgia foi marcada e cancelada pelo menos três vezes. O centro cirúrgico e o leito da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) que ele iria usar foram reservados nas ocasiões, mas todas as vezes a equipe médica responsável cancelou o procedimento, após exames clínicos do garoto mostrem problemas que poderiam atrapalhar a cirurgia. Entre os itens estabelecidos como critério estavam a capacidade de oxigenação e cicatrização do paciente.

Na semana passada ele teve um exame pré-cirúrgico adiado pela Santa Casa, após apresentar alterações em um hemograma. A análise sanguínea foi realizada no dia 15 de fevereiro, quando também estava marcado o ecocardiograma – um exame de ultrassom que avalia o funcionamento do coração. Porém o procedimento cardíaco foi adiado pelos médicos, isso porque o exame de sangue mostrou que Edemar tem déficit de vitaminas no organismo.

No dia 4 de fevereiro, o “indiozinho” realizou um procedimento pré-operatório conhecido como embolização – técnica que o preparou para a cirurgia. Ele precisou ficar internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva), por 24 horas e só retornou para o quarto, onde mora desde outubro de 2015, no dia 5.

Espera – Edemar esperava desde dezembro de 2014 pela cirurgia e desde então já passou por dois hospitais em Mato Grosso do Sul. No HU (Hospital Universitário) de Dourados, a 230 quilômetros da Capital, ele ficou internado por mais de 10 meses. E atualmente aguardava na Santa Casa de Campo Grande, para onde foi transferido em outubro de 2015.

O menino nasceu no dia 23 de dezembro de 2011, no Hospital Regional de Amambai. Entre os dias 10 e 12 de dezembro de 2012 ficou internado no HU (Hospital Universitário) de Dourados. Depois disso, só existe um registro de alta da Santa Casa de Campo Grande, do dia 7 de janeiro de 2013.

Somente no dia 4 de dezembro de 2014 o garotinho retornou para o HU de Dourados, levado pela irmã Jaqueline Lopes, 23 anos – que atualmente o acompanha (a mãe teria sido assassinada pelo pai de Edemar). O hospital informou que o menino foi internado com pneumonia. Na Santa Casa de Campo Grande ele só deu entrada dez meses depois, de acordo com a cardiopediatra que atende o menino, Cláudia Piovesan Farias, por conta do quadro de saúde delicado.

Doença – Edemar tem um grave problema no coração, conhecido como anomalia de Ebstein. Ele nasceu com a doença rara que provoca insuficiência cardíaca por conta de uma má formação.

O problema no coração não impedia que a criança viva fora do hospital, ele poderia aguardar a cirurgia em casa. Porém, a “internação social” na Santa Casa é o único meio encontrado para garantir que ele receba o tratamento necessário. Ele recebeu o diagnóstico da doença também na Santa Casa de Campo Grande. Na época os pais foram informados sobre a gravidade do caso, mas não permitiram que o filho fosse submetido aos procedimentos.

O pai de Edemar, Roberto Gomes da Silva, registrou em uma carta – provavelmente escrita em 2013 – o desejo de que o menino não fosse submetido à cirurgia cardíaca. O documento está guardado junto com outras documentações do garoto, na Casai (Casa de Apoio à Saúde do Índio), na Capital.

A coordenadora da Casai, Eliete Domingues Rios Maggioni, foi até agora a única pessoa – entre representantes indígenas – que conhece e acompanha o caso de Edemar. O Campo Grande News procurou informações sobre ele junto à Funai (Fundação Nacional do Índio), Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), na Capital, em Dourados e também na sede dos órgãos (Funai e Sesai) em Brasília (DF), mas nenhum local tinha conhecimento da situação do “indiozinho”, como foi apelidado Edemar por funcionários da Santa Casa.

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