Capital

Além do coração, agora longe, Hélio deixa jeito alegre para os filhos

Yarima Mecchi | 21/10/2016 11:46
Hélio em foto postada no Facebook; de pedreiro a DJ, com ele não tinha tempo ruim, dizem familiares e amigos (Foto: Reprodução / Facebook)
Hélio em foto postada no Facebook; de pedreiro a DJ, com ele não tinha tempo ruim, dizem familiares e amigos (Foto: Reprodução / Facebook)
à direita na imagem, a esposa abraçada ao filho mais velho, após o adeus a Hélio. (Foto: Yarima Mecchi)

"O jeito alegre de ver a vida" é o que a esposa de Hélio Nogueira diz que pretende deixar para os filhos. Aos 35 anos, o marido de Josimara dos Santos, motociclista, morreu em um acidente de trânsito, e seu coração, rins e córneas foram doados para salvar vidas no Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Distrito Federal.

No velório de Hélio, na manhã desta sexta-feira (21), Josimara demonstrava estar muito emocionada, porém gratificada pelo destino dos órgãos do marido. Ela disse que o esposo era um exemplo para a família e filhos.

Com a missão de criar dois filhos, um de 9 e outro de 15 anos, ela ressalta que vai passar para os meninos a alegria que o pai tinha para ver a vida. "Com ele não tinha tempo ruim. Quando algo acontecia a gente sabia que ele não estava bem, porém ele não deixava de sorrir e ver o lado bom de tudo que acontecia".

Como uma pessoa que salvou vidas, Hélio teve um enterro simples. Sobre o túmulo, apenas uma coroa de flores.

Além de alegre, ele era conhecido como o 'verdadeiro Severino', porque, além de trabalhar em uma empresa prestadora de serviços, também fazia bicos como pedreiro, ajudante de DJ e tatuador. "Ele estava sempre disposto. Em seis anos de amizade eu já vi ele assentar tijolo meia-noite porque chamaram e ele só podia essa hora", relatou o amigo Valdemir Amorim.

Mesmo com a dor de ter pedido um ente querido o clima no sepultamento era de gratidão por todos que puderam conhecer Hélio. "Um cara muito bacana, a doação de órgãos foi o último ato de quem sempre se doou a vida toda para ajudar o próximo. Quem conheceu o Japa sabe que ele sempre olhou para o outro", afirmou Evandro Marcelino da Silva.

Sepultamento foi simples para homem que salvou vidas. (Foto: Yarima Mecchi)

Indignação - Amigos e familiares ficaram indignados com o modo que foi feito o cortejo do corpo de Hélio. Ele foi velado em um cemitério próximo a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) na região Sul de Campo Grande e suputado o no Cemitério São Sebastião - conhecido popularmente como Cruzeiro -, região Norte.

Com a falta de agentes de trânsito para controlar o trafego de veículos alguns familiares e a esposa de Hélio ficaram para trás durante o cortejo. "Na hora de levar os órgãos dele mobilizaram bombeiros e todo mundo, agora na hora de levar ele não teve nem duas motos de trânsito para ajudar", disse Valdemir.

Outros amigos se aproximaram da reportagem e enfatizaram o coro de que ele salvou vidas e poderia ter um cortejo e um enterro mais digno. "Nós vemos atletas sendo carregados em carros do Bombeiros, mas ele salvou vidas e merecia mais consideração", ressaltou a cunhada de Hélio, Rosângela Pereira.

Doação - Na tarde de ontem (20) o Corpo de Bombeiros acompanhou o carro que levava o coração de Hélio até a Base Aérea de Campo Grande para o órgão ser levado à Brasília (DF). Com a autorização da família, além do coração, os rins para Porto Alegre (RS) e Espírito Santo (ES) e as córneas vão permanecer no banco de olhos do hospital.

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