Capital

Acidentes domésticos com crianças dobram na pandemia, aponta pesquisa

No primeiro ano da pandemia, quase 150 crianças foram internadas em hospitais públicos após acidentes em casa

Adriel Mattos | 26/06/2022 15:05
Pesquisadoras têm usado resultados para orientar comunidade. (Fotos: Divulgação/UFMS)
Pesquisadoras têm usado resultados para orientar comunidade. (Fotos: Divulgação/UFMS)

Uma pesquisa da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) apontou que o número de crianças internadas por acidente doméstico em Campo Grande aumentou 70% entre janeiro e outubro de 2020, quando houve isolamento social devido à pandemia de covid-19, comparando com o mesmo período de 2019.

É o que indicam os dados preliminares do estudo realizado por pesquisadoras do Instituto Integrado de Saúde, ligado à universidade, junto a três hospitais de Campo Grande e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Intitulado “Acidentes na infância e hospitalização infantil devido o isolamento social por Covid-19”, o projeto é coordenado pela professora Maria Angélica Marcheti e conta com a participação das pesquisadoras do instituto, servidores do Humap-UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), do Samu; além de acadêmicas de graduação e pós-graduação em Enfermagem. O projeto teve início em maio de 2021.

“Em decorrência da necessidade de isolamento social e o consequente fechamento das escolas e dos centros educacionais infantis, as crianças permaneceram o tempo todo em suas casas. As famílias precisaram se organizar para dar conta, muitas vezes, dos afazeres domésticos, das atividades profissionais em home office ou remotamente, e dos cuidados das crianças. Nem todas as famílias dispõem de ajuda para tantas tarefas”, declarou a professora.

Para Maria Angélica, todas essas atividades juntas exigem maior esforço e divide a atenção, especialmente a dos cuidadores. “As crianças, por permanecerem em casa e, por vezes entediadas, acabam por explorar mais o ambiente doméstico o que as expõem a riscos”, afirma.

Parte da equipe responsável pelo projeto.

Analisando os prontuários nos três hospitais, a equipe de pesquisadoras contabilizou 85 pacientes, entre janeiro e outubro de 2019, internados devido a acidentes domésticos. No mesmo período, em 2020, o número subiu para 146. “As principais situações registradas são: queimaduras, lesão nos olhos, cortes, fraturas e traumas em geral, que ajudaram a aumentar em 75% as buscas por atendimentos em um hospital de grande porte”, aponta a docente.

Até o momento, é possível dizer que a maior parte das ocorrências aconteceram em comunidades carentes e vulneráveis. “O isolamento domiciliar de longo prazo, devido às medidas adotadas para evitar a propagação da covid-19, apresentou o potencial de aumento do risco de acidentes domésticos em crianças, como um dano colateral adicional da pandemia”, destaca.

O estudo também gerou outros resultados como trabalhos de conclusão de curso e apresentação em evento científico nacional. Além disso, os resultados parciais têm sido apresentados à comunidade, focando à prevenção de acidentes na infância e, segundo Maria Angélica, as ações são realizadas tanto na UFMS como em centros de educação infantil.

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