Capital

Abandonado, patrimônio histórico de ferrovia se transforma em "favelinha"

Área localizada ao lado da Feira Central está sendo ocupada por barracos e seria reduto de usuários de drogas.

Anahi Gurgel | 17/03/2017 07:11
Barracos montados na antiga garagem da Estação Ferroviária. (Foto: Alcides Neto)
Barracos montados na antiga garagem da Estação Ferroviária. (Foto: Alcides Neto)

Reflexo de anos de abandono e descaso, a área que foi um dos principais impulsionadores do desenvolvimento de Campo Grande, a Estação Ferroviária, está se transformando numa pequena "favela". Localizada no bairro São Francisco, a garagem que já abrigou vagões no passado, hoje é ocupada por barracos e, segundo relatos, seria ponto de venda e uso de entorpecentes. 

Na tarde desta quinta-feira (16), encontramos alguns barracos erguidos bem ao lado de um dos mais importantes pontos turísticos da cidade, a Feira Central. Em meio à madeirites, plásticos, papelões e até restos de carros alegóricos deste Carnaval, é difícil contar o número de moradias. Nossa equipe tentou conversar com alguns moradores, mas foi hostilizada.

"Me deixem em paz. Vocês não são bem-vindos. Saí das ruas e agora tenho meu cantinho. Dizem que vão tirar a gente daqui. Estou aqui só esperando", esbravejou uma cadeirante, conhecida como Verônica, sem informar "quem" faria a transferência, nem para onde.

Outros moradores dos barracos também não quiseram conversar. A maioria das portas estava fechada. De acordo com os vizinhos, que residem em uma espécie de vila na área lateral à garagem, pelo menos 5 pessoas moram na pequena “favela”. "Mas esse número varia muito. Não temos muito contato. Ficam na deles", disseram. 

Nessa área que serpenteia a "favelinha", vivem cerca de 10 famílias nas casas de alvenaria que, no passado, abrigavam os trabalhadores da ferrovia. 

“Viemos pra cá por causa da situação difícil que a gente estava passando. Muito caro pagar aluguel e outras contas”, afirma Samuel Evangelista Ribeiro, 30, que saiu da periferia da cidade para dividir uma das casas com o pai, há pelo menos 12 anos.

“Uns dizem que a área é da União, outros da Prefeitura. Eu não sei ao certo, mas desde que moro aqui não tenho dor de cabeça com isso", esclarece. Questionado sobre os moradores dos barracos e o aumento da violência, Samuel diz que os vizinhos não incomodam e que não percebeu mudanças.  

Mas essa opinião não é unânime. Uma mulher que reside próximo à garagem da estação, e que não quis se identificar, garante que há não somente o consumo, mas também a venda de drogas no local. 

“Vai tudo quanto é tipo de gente comprar droga, a toda hora. Muitos consomem ali mesmo ou na rotunda. Direto sai briga feia, com faca, gente drogada gritando, muita confusão. A polícia e a guarda municipal passam por lá, sim, fazem rondas, mas quando saem, tudo volta. A situação é de muita insegurança; tudo pode acontecer. Penso em mudar”, desabafa.

Garagem da estação ferroviária, onde barracos foram erguidos. (Foto: Alcides Neto)
Interior da rotunda da Estação Ferroviária. Abandono total. (Foto: Alcides Neto)

Rotunda abandonada - Alguns metros adiante da antiga garagem dos vagões, na rotunda da esplanada ferroviária, o abandono do local fica evidente no chão cheio de lixo, nas paredes pichadas e no mau cheiro que exala do ambiente.

Moradores dos bairros que rodeiam a área circular, que já serviu como depósito das locomotivas, relatam que usuários de drogas e de bebidas alcoólicas constantemente utilizam o lugar e fazem muita "baderna". O espaço é deserto, pouco iluminado e sem qualquer controle de acesso, já que não há cercas, muros ou fiscalização.

No momento da reportagem, uma dupla de guardas municipais fazia ronda no local. Eles informaram que a guarda passa pela região durante todo o dia e que é comum a abordagem a usuários de drogas tanto na garagem quanto na rotunda, por ser uma área isolada.

Entulho na antiga garagem da ferroviária. (Foto: Alcides Neto)

Moradora da Rua dos Ferroviários, que passa nos fundos da Feira Central de Campo Grande, Elaine Aparecida Cabreira, de 38 anos, nasceu e foi criada no bairro.

Ela conta que a violência aumentou consideravelmente de uns 2 anos para cá. "Ainda bem que nunca aconteceu nada com minha família, porque a gente toma muito cuidado, não fica muito aqui na frente”, diz.

“Está tendo muito mais assalto, roubo e usuários de drogas passando por aqui o tempo todo”, observa a diarista, que mora com a mãe, o irmão e dois filhos.

O Campo Grande News entrou em contato com a Prefeitura para obter informações sobre os moradores do local e se providências estão sendo tomadas em relação à destinação da área, mas até o fechamento desta reportagem não houve retorno. 

 

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