Capital

"Sonho virou pesadelo", diz mutuário que ocupou apartamento da Homex

Natalia Yahn | 18/04/2016 11:18
Alex Nunes mostra a papelada que confirma a posse do apartamento ao lado de outros moradores que ocupam o local desde sábado (16). (Foto: Fernando Antunes)
Alex Nunes mostra a papelada que confirma a posse do apartamento ao lado de outros moradores que ocupam o local desde sábado (16). (Foto: Fernando Antunes)
Moradores decidiram ocupar os apartamentos que tiveram a obra concluída. Equipe do Campo Grande News foi impedida de entrar no local. (Foto: Fernando Antunes)

“O sonho virou pesadelo. Eu me mudei com a família toda, não aguento mais pagar aluguel. Não estamos invadindo e sim ocupando o que é nosso”, afirmou a frentista Elisandra Carla Garcia, 27 anos. A família dela e outras 39 ocupam desde sábado (16), os apartamentos da empresa mexicana Homex, no Bairro Paulo Coelho Machado, em Campo Grande.

Os mutuários afirmam que são os proprietários dos imóveis e por isso dizem que não vão sair do local até a situação ser resolvida. O grupo quer a regularização da obra e a entrega dos apartamentos pela CEF (Caixa Econômica Federal).

Elisandra, junto com o marido e dois filhos de 7 e 3 anos, estão há 48 horas no apartamento que foi adquirido há quatro anos. “Queremos morar na casa que pagamos, é nosso direito”, afirmou.
Sem água e luz, além de ter como vizinhos as carcaças dos prédios que não tiveram a obra concluída – o que estaria impedindo a liberação dos blocos que já estão prontos –, os mutuários reclamam da falta de informações.

“Fomos ao cartório com o contrato de compra, com toda documentação, e conseguimos a posse. Mas para liberar a obra só com o habite-se e a Caixa (Econômica Federal) diz que não tem porque a obra não está toda pronta. Queremos o desmembramento para podermos receber o que é nosso, é a nossa casa”, explica o vendedor Nathanahan Assis Herebia, 31 anos, marido de Elisandra.

O foco do problema são 272 apartamentos divididos em cinco condomínios – Cuiabá, Bem-te-vi, Canário, Das Águas e Amoreira –, que estão finalizados, mas não podem ser entregues por não terem o habite-se (autorização dada por órgão municipal permitindo que determinado imóvel seja ocupado).

“A Caixa diz que é a Prefeitura que não liberou, e fica um jogo de empurra. A Homex faliu, a obra ficou parada mais de dois anos, agora terminaram e queremos nossa casa”, afirmou o fiscal de loja, Anderson de Campos, 23 anos.

Apartamentos prontos do lado esquerdo, e inacabados do lado direito. (Foto: Fernando Antunes)

Os anos de espera mudou a realidade da vida de cada mutuário. O motorista Alex Ramos Nunes, 25 anos, financiou o imóvel em 2012, na esperança do filho poder brincar no parquinho do condomínio. “Eu peguei um apartamento bem na frente dos brinquedos. Pensei que meu filho ia aproveitar, porque a entrega seria em seis meses, que na verdade viraram quatro anos. Meu segundo filho nasceu, tem 7 meses e o primeiro já está com 8 anos”.

O casal José Barbosa dos Santos, 60 anos, e Aparecida Pereira da Silva Santos, 53 anos, também resolveram se mudar para o local. “A gente pagou por muito tempo a taxa de construção, que era de R$ 110, depois só aumentou para R$ 280, R$ 370 e até R$ 400. Agora pagamos só o seguro, mas a gente quer o apartamento, pagar as prestações certinho”, afirmou Aparecida.

A Caixa Econômica Federal foi procurada, e por intermédio da assessoria de imprensa da Superintendência do órgão em Mato Grosso do Sul, afirmou que vai ser pronunciar sobre o problema apenas no período da tarde.

Caso – Reportagem do Campo Grande News, publicada em 23 de março, mostrou que a novela sobre o maior escândalo habitacional de Campo Grande, que trouxe prejuízo de R$ 30 milhões a mutuários dos apartamentos da Homex, está longe de terminar.

Os 272 apartamentos pleiteados pelo grupo que ocupou os imóveis, estão prontos há 17 meses e ainda não foram entregues por falta do habite-se. Há aproximadamente 5 anos, os primeiros 94 mutuários começaram a entrar em seus apartamentos no condomínio Aroeira.

Também no mês passado, a Câmara Municipal de Campo Grande, realizou uma audiência pública para tratar do problema, mas a CEF não enviou represente o que prejudicou a reunião, já que informações importantes do processo deixaram de ser abordados.

“A Caixa não apareceu, não deu explicações. Lá na audiência ouvimos que serão os nossos netos a desfrutarem dos apartamentos”, afirmou Campos, que comprou o apertamento em 2012 e até agora não recebeu o imóvel. “Quem já conseguiu entrar, de outros condomínios, reclama da qualidade. Tem muito problema. Eu comprei quando era solteiro, agora casei e tenho que morar de favor na casa dos outros. Praticamente parou a vida da gente, porque nem financiar outro imóvel eu posso. Tenho uma casa, mas na verdade não tenho”, lamentou.

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