Cidades

Campo Grande tem apenas seis leitos para tratamento contra as drogas

Aline dos Santos | 14/08/2014 14:36
Conforme Harfouche, "estão brincando com a questão". (Foto: Marcos Ermínio)
Conforme Harfouche, "estão brincando com a questão". (Foto: Marcos Ermínio)

Problemas que vão de desinteresse a oferta escassa de leitos marcam o atendimento aos dependentes químicos. Em Campo Grande, são apenas seis leitos para desintoxicação, enquanto a estimativa é que ao menos 1% da população seja usuária.

“Quando precisa de desintoxicação, só tem o Hospital Regional, com seis leitos. No mínimo, são oito mil pessoas. Onde vai pôr toda essa gente?”, questiona o médico psiquiatra Marcos Estevão do Santos Moura, membro da comissão técnica do 1º Seminário Estadual da Rede de Atendimento: Álcool e outras Drogas. O evento acontece hoje e amanhã no Circulo Militar, em Campo Grande.

A rede de atendimento é restrita até mesmo no primeiro estágio. A Capital só tem uma unidade do Caps AD (Centro de Atendimento Psicossocial – Álcool e outras Drogas). Conforme o psiquiatra, é preciso uma unidade para cada 200 mil habitantes. Ou seja, pelo menos quatro na cidade. “E o que funciona não tem médico psiquiatra”, afirma.

A desintoxicação demora, no mínimo, 30 dias. Depois, a estadia em comunidades terapêuticas vai de seis meses a um ano. Para o psiquiatra, quem consegue vencer todas essas etapas precisaria do apoio de uma política pública de reinserção social, aos moldes das ações para os egressos do sistema penal. “Para o acolhimento do dependente, tem a resistência da sociedade”, diz Marcos Estevão.

Além da oferta raquítica, o enfrentamento às drogas esbarra na omissão dos gestores públicos, que resulta em portas fechadas para o acesso ao dinheiro do governo federal. “Estão brincando com a questão. Aqui era corredor, já estão estocando. Tem cracolândia já. O conselho estadual faz a sua parte. É difícil fazer a parte de quem não está interessado”, salienta o presidente do Conselho Estadual Antidrogas, promotor Sérgio Harfouche.

Dos 79 municípios do Estado, 37 têm conselhos municipais sobre o tema. Porém, somente 23 está ativos. “Os prefeitos negligenciam a criação dos conselhos”, afirma. O procedimento é que o Poder Executivo envie projeto à Câmara Municipal. Se aprovado, uma lei cria o conselho.

Sem os conselhos, as cidades não podem pleitear recursos em programas do governo federal. Harfouche exemplifica que o programa Viva Jovem, edital da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas), disponibilizou recursos de R$ 15 milhões para financiar projetos para os jovens no País.

“Num edital de R$ 130 milhões para comunidades terapêuticas, somente três das 40 pudera, concorrer”, diz.

Para Marcos Estevão, dependente precisa de política pública para reinserção. (Foto: Marcos Ermínio)

De acordo com Denise Souza e Silva que integra o conselho estadual, Mato Grosso do Sul tem desde 2011, mas não foi publicada. “Nós não conseguimos entender”, afirma.

Para traçar um perfil completo dos usuários de drogas e da rede de atendimento será lançado um estudo. O mapeamento terá dados como estrutura das instituições, localização, recursos para se manter e qual a natureza das internações. No banco de dados entrarão hospitais, Caps, comunidades terapêuticas e grupos de apoio

Pesquisa preliminar, realizada para embasar o plano nacional de enfrentamento ao crack, apontou cenário preocupante e avanço de uma droga “de casa” em Mato Grosso do Sul, a pasta-base.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) para verificar a oferta de leitos para desintoxicação e aguarda resposta.

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