Cidades

Após morte de Dorsa, médico rompe silêncio sobre acusação de fraude

Cardiologistas foram gravados em diálogo em que falam em omitir informações sobre morte durante cirurgia

Anahi Zurutuza | 13/03/2018 11:55
Da direita para a esquerda, médicos João Jackson e Josér Carlos Dorsa, em foto publicada pelo primeiro em rede social (Foto: Facebook/Reprodução)
Da direita para a esquerda, médicos João Jackson e Josér Carlos Dorsa, em foto publicada pelo primeiro em rede social (Foto: Facebook/Reprodução)

Cinco anos depois que áudio sobre a morte de uma paciente do HU (Hospital Universitário) de Campo Grande durante cirurgia veio à tona, o médico cardiologista que conversa ao telefone com José Carlos Dorsa, rompeu o silêncio.

João Jackson Duarte se manifestou publicamente um dia depois que o colega, que ficou conhecido após denúncias sobre a existência da suposta “Máfia do Câncer”, morreu em uma sauna na Capital.

O cardiologista lamenta a morte do colega e critica a imprensa por ter “ressuscitado” o histórico da Operação Sangue Frio, força-tarefa que investigou ele, Dorsa e outros profissionais da área da saúde.

Quando a conversa gravada foi divulgada em meio ao turbilhão de denúncias feitas pela Sangue Frio, pouco se falou sobre quem era o médico que dialogava com Dorsa sobre a adulteração de documentos oficiais para supostamente esconder erro médico.

Embora a imprensa já tenha noticiado que o MPF (Ministério Público Federal) denunciou João Jackson e o Dorsa por falsidade ideológica e uso de documentos falsos, o médico faz questão de tornar público na postagem, para quem ainda não sabia, que a segunda voz no áudio é dele.

“Hoje é um dia muito triste para mim! E li em alguns posts o diálogo sobre a morte de uma paciente, amplamente divulgada pela imprensa e ressuscitada em dia mais inadequado possível, onde o Dr. Dorsa conversa com um médico! Então!!! Este médico do diálogo SOU EU!”, começa assim o desabafo postado no Facebook, na noite desta terça-feira (12).

O médico diz também que apesar de ainda estar respondendo pelo ocorrido em 21 de junho 2012, na Justiça e em processo aberto pelo CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul), toda vez que a conversa com Dorsa é revivida, ele e o colega são “condenados”. “Estamos até hoje respondendo judicialmente e no CRM sobre o caso, que sempre é revivido pela imprensa, falada e escrita! Pelo que eu sei não fomos condenados, exceto pela imprensa!”, continua a criticar.

João Jakson não mede elogios para o colega. “Olha, sinceramente, eu poderia ficar no anonimato e me esconder, porque as palavras escritas da imprensa são pesadas e injustas e sem nem um compromisso com a verdade, mas no dia de hoje não dá para aguentar calado. Inclusive peço desculpas aos amigos pela exposição, não quero polemizar ou causar nenhuma confusão! Mas é que conheço o Dr. Dorsa há mais de 20 anos! Vi muitas vezes ele operar por mais de 24 horas seguidas, sem comer e se beber água, de pé em frente do paciente e aprendi com ele o que é ‘nunca desistir’ e ele nunca desistiu!”.

O cardiologista ainda defende que Dorsa foi o único a querer tratar a paciente que morreu na mesa de cirurgia. “Participei SIM deste diálogo! Paciente deu entrada em risco de morte já tinha sido desenganada em vários outros hospitais da cidade e ninguém teve coragem de indicar qualquer procedimento para tentar salvar a vida daquela senhora! Então, o Dr. Dorsa, que eu conheço há mais de 20 anos, abraçou a causa da paciente e indicou um procedimento que ele trouxe aqui para o Estado e salvou a vida de mais de 20 pacientes!!!”.

Ele também nega que tenha omitido ou adulterado informações no documentos que registraram a morte de Maria Domingues Lopes Dias, 65. “Já anexamos todas as provas aos autos do processo com descrição de relatório de procedimentos que descreve tudo que foi feito e inclusive descreve a perfuração do ventrículo que é uma complicação inerente ao procedimento de alto risco! Bom, vamos aguardar o julgamento em paz e fazendo o nosso melhor pelos pacientes! Com a consciência tranquila de quem fez e faz de tudo para ajudar o paciente a se curar!”.

Sauna onde José Carlos Dorsa morreu (Foto: Marina Pacheco)

Morte – José Carlos Dorsa Vieira Pontes, de 51 anos, morreu na noite de domingo (11) em uma casa de massagem e sauna no centro de Campo Grande.

O cardiologista teria passado mal e sofrido uma convulsão, sendo encontrado no segundo andar do estabelecimento deitado de bruços. Há suspeita de que ele tenha sofrido um ataque cardíaco, porém, a causa da morte só será confirmada em exames que ficarão prontos dentro de 30 dias, conforme a Polícia Civil.

Alvo da operação – Alvo de dez ações judiciais decorrentes da Sangue Frio, entre denúncias cíveis e criminais, Dorsa vivia a expectativa de que, dentro de um mês, conseguiria provar sua inocência em um dos processos sobre fraudes em contratações e desvios de recursos no HU, segundo o advogado Fabrizio Tadeu Severo dos Santos, que desde 2012 defendia o médico das acusações relacionadas à “Máfia do Câncer”.

A denúncia de erro médico e fraude em documentos é a que talvez mais tenha atingido a imagem do cardiologista. Dorsa e Jackson foram denunciados pelo MPF em julho do ano passado por omitirem procedimentos feitos na cirurgia cardíaca de Maria Domingues.

No episódio, a paciente morreu em decorrência da perfuração no ventrículo esquerdo. Dorsa e o cardiologista João Jackson declararam em documentos oficiais que a morte se deu por “causa diversa”.

Contudo, interceptações telefônicas feitas durante a Sangue Frio, em 2013, mostraram os profissionais combinando o que diriam em relação a um dos procedimentos que não deram certo.

Sangue Frio – Nas primeiras horas da manhã do dia 19 de março de 2013, munidos com 19 mandados de busca e apreensão e quatro ordens judiciais de afastamento de funções, policiais federais foram ao Hospital do Câncer Alfredo Abrão, ao HU, à residência do médico oncologista Adalberto Abrão Siufi e à clínica NeoRad. A operação também teve como alvo Dorsa, que era diretor do HU na época. 

Na época, ele foi afastado da direção do HU por 60 dias e próximo à data do retorno, pediu para sair do cargo.

No Hospital Universitário, foram investigadas fraudes em licitações, corrupção passiva, desvio de dinheiro público e superfaturamento em obras.

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