Cidades

Rede do tráfico de cocaína contava com policiais, empresários e até assassino

Prisões foram cumpridas durante operação do Gaeco nesta terça-feira, em Campo Grande e Ponta Porã

Por Dayene Paz | 27/03/2024 10:37
Advogados de um dos presos chegando na Depac Cepol, na manhã desta terça-feira. (Foto: Henrique Kawaminami) 
Advogados de um dos presos chegando na Depac Cepol, na manhã desta terça-feira. (Foto: Henrique Kawaminami) 

Tráfico de cocaína em larga escala, entre Ponta Porã e Campo Grande, droga que era distribuída para o restante do país, contava com esquema sofisticado e, segundo a investigação, "estruturado". Além dos policiais civis, que levavam droga em viaturas oficiais e até faziam escoltas de caminhões com entorpecente, o grupo contava com empresários e até assassino. 

É o que aponta a investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que deflagrou a Operação Snow nesta terça-feira (26). Foram emitidos 54 mandados judiciais, entre prisões e busca e apreensões, cumpridos com apoio de policiais militares. 

Os investigados levados para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Cepol, de onde foram levados para audiência de custódia, na manhã desta quarta-feira (27). Todos tiveram as prisões mantidas pela Justiça de Mato Grosso do Sul.

Policiais alvos - Em relação aos policiais civis que faziam parte da quadrilha, foram emitidos cinco mandados, dois de prisão preventiva e três de busca e apreensão, todos cumpridos. A PCMS (Polícia Civil de Mato Grosso do Sul) divulgou que os agentes estão custodiados no Presídio de Trânsito e 3ª Delegacia de Polícia da Capital. Apenas um dos policiais foi identificado pela reportagem, como sendo Hugo César Benites. 

Outros alvos - Três mandados, de prisão e de busca e apreensão, foram cumpridos na mesma família. Foram presos: Douglas de Lima de Oliveira Santander, 35; o pai Natoni Lima de Oliveira; e a mãe de Douglas, a empresária Darli Oliveira Santander. Douglas é réu por matar a tiros Cristian Alcides Lima Ramires, em outubro de 2022. 

Ainda, foram presos: Franck Santos de Oliveira, 46, que acabou também autuado em flagrante por porte irregular de arma de fogo de uso permitido; Ademar Almeida Ribas; e Ademilson Cramolish Palombo, o "Alemão", envolvido no caso do garagista e agiota Carlos Reis de Medeiros de Jesus, 52, o "Alma", morto e esquartejado em Campo Grande. Ademilson devia alta quantia ao garagista, cujo corpo nunca foi encontrado. 

Também estão inclusos na lista: Jucimar Galvan, 45 anos, empresário e também autuado em flagrante por porte ilegal de arma de fogo; Adriano Diogo Veríssimo, 32, motorista de caminhão e com passagem por ameaça no âmbito da violência doméstica; Eric do Nascimento Marques; Joesley da Rosa, 35, motorista de caminhão; Márcio André Rocha Faria, administrador também flagrado com arma na operação; Mayk Rodrigo Gama; Rodney Gonçalves Medina, empresário com passagens por tráfico de drogas em São Paulo; e Wellington de Sousa Lima, 27, conhecido como "garganta" e fichado na polícia por furto. 

Ainda, há mandados para serem cumpridos, mas a reportagem não teve acesso aos nomes.

Entenda - Segundo a investigação do Gaeco, que contou com o auxílio da Corregedoria da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal, a organização criminosa era altamente estruturada. "(...) com uma rede sofisticada de distribuição, com vários integrantes, inclusive policiais cooptados, fazia o escoamento da droga, como regra cocaína, por meio de empresas de transporte, as quais eram utilizadas também para a lavagem de capitais, ocultando a real origem e destinação dos valores obtidos com o narcotráfico." 

Para isso, a cocaína era escondida em carga lícita, ou seja, com documentações legais, o que dificultava a fiscalização policial nas rodovias "principalmente quando se tratava de material resfriado/congelado (carnes, aves etc.), já que o baú do caminhão frigorífico viajava lacrado". 

Outra maneira que utilizavam para traficar a droga de Ponta Porã a Campo Grande era o chamado “frete seguro”. “(...) policiais civis transportavam a cocaína em viatura oficial caracterizada, já que, como regra, não era parada, muito menos fiscalizada por outras unidades de segurança pública”, aponta a investigação. 

A quadrilha ainda fazia a transferência da propriedade de caminhões entre empresas usadas pelo grupo e os motoristas, desvinculando-os dos reais proprietários. Com isso, chamavam menos atenção em eventual fiscalização policial, porque, em regra, a liberação é mais rápida quando o motorista consta como dono do veículo. 

Durante a investigação, foi possível identificar mais duas toneladas de cocaína da organização criminosa, apreendidas em ações policiais.

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