Cidades

Pandemia mata tanto quanto assassinatos e o dobro do trânsito

Em 4 meses, covid-19 provocou 167 mortes, enquanto 73 pessoas morreram em acidentes e 142 foram assassinadas em MS

Liniker Ribeiro e Marta Ferreira | 14/07/2020 07:10
Equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no HRMS, hospital referência para tratamento de doentes da covid-19, que já matou 167 pessoas este ano, mais do que os assassinatos nos 4 meses de registros da doença em MS (Foto: Marcos Maluf)Foto:
Equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no HRMS, hospital referência para tratamento de doentes da covid-19, que já matou 167 pessoas este ano, mais do que os assassinatos nos 4 meses de registros da doença em MS (Foto: Marcos Maluf)Foto:

Em quatro meses, desde as primeiras confirmações de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, em Mato Grosso do Sul, 167 óbitos por covid-19 foram registrados, no Estado, conforme último balanço divulgado pela SES (Secretaria Estadual de Saúde). 

O número, que já chama atenção por si só, ilustra uma realidade ainda mais preocupante: de março a julho de 2020, a doença fez tantas quanto os assassinatos e matou o dobro de pessoas em relação à violência no trânsito. A situação está perto do colapso, a ponto de o hospital de referência para o tratamento da doença em Campo Grande ter se usar conteineres para abrigar corpos de pessoas que morreram em decorrência da covid-19. 

Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, coletados entre os dias 9 de março e 12 de julho, apontam que 142 homicídios dolosos foram contabilizados, no Estado. Nesse exato período, foram confirmados 153 óbitos por covid-19, com 11 casos a mais que o número de assassinatos. A diferença, em percentual é de 7% a mais para as vitimas da pandemia. 

Quando o assunto são as mortes no trânsito, no período consultado, 73 pessoas foram vítimas de acidentes automobilísticos. Na comparação, a pandemia teve letalidade mais de 100 por cento superior que a violência do trânsito.


Contra a alegação de que não se pode comparar a violência de hoje com a pandemia, em razão da circulação menor de pessoas, os dado de 2019, indicam que a covid-19 produziu mortes em números semelhantes ao mesmo período do ano passado.

Entre 9 de março e 12 de julho de 2019,  foram 143 homicídios dolosos, ou seja, 6% a menos do que as mortes em decorrência do novo coronavírus neste ano. Quando comparado com o número de mortes em acidente de trânsito, o total de vítimas da pandemia em 4 meses é 82% maior que o quantitativo de vidas levadas pela violência nas ruas, de 84 no mesmo quadrimestre do ano passado. 

No HRMS, conteiner está sendo usado para colocar corpos. (Foto: Divulgação)
Histórico - O rápido avanço na quantidade de mortes pela doença é nítido quando analisado o total de confirmações mês a mês. Em março, apenas um óbito por covid-19 foi confirmado no Estado. Em abril foram 8, enquanto em maio 11 pessoas não resistiram à doença. 

A partir de junho, a letalidade do vírus foi ainda maior. Nos trinta dias do sexto mês do ano foram registradas 70 mortes, número já ultrapassado em julho. Em apenas 13 dias, 77 óbitos foram confirmados pela SES, este mês.  

De uma ponta a outra - Centenário, o idoso Valentim Lopes viu e viveu muita coisa em vida. E a história de uma homem que não aparentava a idade que tinha, conforme relato do filho, Magno da Silva Lopes, de 50 anos, teve um capítulo final no último dia 10 devido a complicações da covid-19. 

O idoso é a vítima mais experiente da doença, em Mato Grosso do Sul e morava em Ponta Porã, a 315 quilômetros de Campo Grande. Sem saber como, Valentim contrário a doença e veio a óbito há quatro dias. 


Na outra ponta de uma lista com 167 nomes, até ontem, um jovem, de 25 anos. A vítima mais nova da doença provocada pelo novo coronavírus morava em Camapuã, a 140 km da Capital. 

Fabrício Nogueira, conforme relato de familiares, tinha quadro de bronquite asmática, comorbidade que agravou seu estado de saúde após contrariar covid-19. O diagnóstico de coronavírus veio no mesmo dia do óbito, na última terça-feira (30).


Nos quatro meses de pandemia, Mato Grosso do Sul acumula 13,4 mil registros de casos positivos de novo coronavírus. O momento atual é de pico da doença, e por isso medidas restritivas de circulação estão em análise para esta semana.

Há um cruzamento envolvendo a prevenção à violência e a estrutura para atender as vítimas da pandemia: é que quanto menos casos de feridos no trânsito ou por armas, mais preservada fica a estrutura de saúde, para atender vítimas de outras doenças que não a covid-19. 

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