Cidades

No grupo de risco da covid, prefeitos tentam driblar doença e cumprir expediente

Prefeitos dizem que função não permite isolamento total e tentam se cuidar com máscara, álcool, distanciamento e oração da família

Silvia Frias | 04/06/2020 08:18
Em Guia Lopes, reunião na prefeitura: máscara e distanciamento (Foto: João Velasquez)
Em Guia Lopes, reunião na prefeitura: máscara e distanciamento (Foto: João Velasquez)

Em Mato Grosso do Sul, dos 79 prefeitos, 29 tem idade igual ou acima a 60 anos e, destes, sete de 70 a 75 anos. Mesmo sem levar em conta a pré-existência de doença crônica, fazem parte do grupo de risco mais propenso a complicações por conta do novo coronavírus (covid-19), mas não podem recorrer totalmente ao isolamento social e, ainda, precisam dar exemplo de distanciamento e etiqueta respiratória.

Dos 1.892 casos de infectados pela covid-19 no Estado, a maioria está na faixa etária dos 30 a 39 anos (28,5%). Mas, das 20 mortes, 15 são de pessoas acima dos 60 anos e com exceção de um óbito, todos os outros pacientes tinham comorbidade, como hipertensão, diabetes ou doença cardiovascular.

 “Eu tenho 72 anos e sou diabético, imagina como que não estou? Tenho que ter cuidado”, disse o prefeito de Rio Brilhante, Donato Lopes da Silva (PSDB). O município, distante 164 quilômetros de Campo Grande, ocupa a 6ª posição em infecções no Estado, com 89 casos confirmados da doença, conforme atualização do boletim da prefeitura, números que ainda vão chegar na contagem da SES (Secretaria Estadual de Saúde).

O prefeito diz que costuma ir à prefeitura por volta das 7h, reúne-se com poucos membros do comitê de combate à covid-19, atende outras demanda e cumpre expediente presencial de cerca de 3h. “Aí eles tocam a vida e eu fico trabalhando por telefone, em casa, o dia inteiro”. Desde que os casos aumentaram, diz que ele e a esposa, Iraci, 72 anos, não vêem os filhos, os seis netos e os três bisnetos. “A gente se vê por vídeo”. 

Dependendo da agenda, Lopes diz que o secretário Municipal de Saúde é convocado. “Eu estou evitando alguns lugares, aí ele me auxilia, tem 50 anos, toca o barco e tira de letra”.

Um ano mais velho que o colega, o prefeito de Cassilândia, Jair Boni Cogo (PSDB), tem a seu favor, por enquanto, o fato do município distante 433 quilômetros de Campo Grande não ter nenhum caso confirmado da doença. “Mas tenho todas as doenças que você possa imaginar, sou 100% grupo de risco”, disse, sem detalhar quais são.

Cogo já se submeteu ao teste rápido e resultado foi negativo para a doença. No dia a dia, diz que recorre às precauções gerais, como uso de máscara e álcool em gel. Caso precise fazer reunião na prefeitura, o grupo não passa de dez pessoas, respeitando o distanciamento. “Acho que Deus está me ajudando”.

Diabético e com 72 anos, prefeito de Rio Brilhante diz que tenta se cuidar (Foto/Divulgação)

Com duas mortes por covid-19, a população em Brasilândia, a 284 quilômetros de Campo Grande, passou por período de alerta, mas agora, sem registro de novos casos confirmados da doença há 20 dias, a cidade relaxou, segundo o prefeito Antônio de Pádua (MDB), 70 anos.

 “Acalmou tanto que até esqueceu a covid-19”. Pádua diz que usa máscara e álcool em gel constantemente e tenta desviar de armadilhas sociais. Conta que já aconteceu de, no descuido, algumas pessoas se aproximarem mais do que deveriam na hora do cumprimento. “Aí a gente fala ‘desculpa, não é o momento’, fala que não tem como pegar na mão, cumprimentar”.

No extremo sul do Estado, em Mundo Novo, o prefeito Valdomiro Brischiliari (PL), tem 65 anos e é diabético. A exemplo do prefeito de Rio Brilhante recorreu ao telefone e internet para manter contato com os cinco filhos e sete netos. Mas, como não deixou de ir à prefeitura para trabalhar, aproveita o trajeto para passar em frente da casa dos familiares. “Aí eu buzino, dou um tchau e tá tudo certo”. Em casa, vive com a esposa, Gislane, 37 aos, gatos e cachorros. “Aí quando eu tenho que sair, ela reza Ave Maria, um Salve Rainha e eu tento manter cuidado”.

Nos siga no