Cidades

Major Carvalho traficava cocaína usando pilotos ligados a Beira-Mar

Ex-policial de Mato Grosso do Sul e "dono" de esquema bilionário é caçado pela Interpol na Europa

Anahi Zurutuza | 24/11/2020 14:14
Carvalho quando foi preso na Operação Las Vegas em 2009, em Corumbá (Foto: Diário Corumbaense/Arquivo)
Carvalho quando foi preso na Operação Las Vegas em 2009, em Corumbá (Foto: Diário Corumbaense/Arquivo)

O esquema bilionário de tráfico de cocaína comandado pelo ex-policial militar de Mato Grosso do Sul, Sérgio Roberto de Carvalho, 62, conhecido como “Major Carvalho”, contava com pilotos que foram ligados a um dos maiores traficantes brasileiros, Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.

De acordo com apuração do jornalista Josmar Jozino, colunista do portal Uol, Sílvio Berri Júnior foi preso no interior de São Paulo nessa segunda-feira (23) durante a Operação Enterprise, deflagrada pela Polícia Federal com apoio da Receita Federal e da Interpol. 

Berri Júnior, conforme o colunista, já trabalhou para Beira-Mar e é considerado um dos mais experientes do Brasil.

Outro membro do “staff” de Major Carvalho, é Ilmar de Souza Chaves, o “Pixoxó”. Com 65 anos de idade, Ilmar também tem o passado ligado a Fernandinho Beira-Mar.

Em agosto deste ano, o veterano piloto do narcotráfico foi um dos alvos de Operação Cavok, da Polícia Federal, que apreendeu 23 aviões usados por traficantes e sequestrou imóveis avaliados em R$ 40 milhões. 

Os mandados foram cumpridos em Ponta Porã e Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, e Goiânia (GO). O Campo Grande News apurou à época que entre os imóveis sequestrados por determinação da 1ª Vara Federal de Ponta Porã estava uma fazenda da família de Ilmar Machado, em Goiás. 

Autoridades próximas à investigação também revelaram à reportagem deste jornal on-line naquele mês, Ilmar Chaves vivia como empresário e fazendeiro em Goiânia, mas estava atuando ativamente no negócio das drogas trazidas de países vizinhos e introduzidas no Brasil através da fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul.

Piloto Ilmar de Souza Chaves, o “Pixoxó”, ao ser preso em Minas Gerais, em 2010 (Foto: Reprodução/TV Record)

Enterprise – Major Carvalho é o principal alvo da Operação Enterprise, a maior realizada pela PF contra o tráfico internacional de drogas neste ano. O mandado de prisão preventiva (por tempo indeterminado) contra ele prevê a chamada “difusão vermelha” da Interpol (Polícia Internacional), possibilidade de prisão da pessoa que se encontra fora do País, mas com ordem expedida por autoridade brasileira.

Nessa segunda-feira (24), a PF, com apoio da Receita Federal e Interpol, saiu às ruas ontem para cumprir 149 de busca e 66 de prisão em 10 estados brasileiros, incluindo o Mato Grosso do Sul, e ainda na Espanha, Portugal, Colômbia e Emirados Árabes Unidos.

Ainda conforme o Uol, até o início da noite dessa segunda, a Interpol ainda procurava Major Carvalho em territórios espanhóis e portugueses. A Polícia Federal ficou de divulgar mais informações nesta tarde.

Em Lisboa, capital de Portugal, agente apreenderam 11 milhões de euros – o equivalente a 70,7 milhões de reais – guardados em malas dentro de uma van estacionada em imóvel que pertence a um dos alvos.

Na Espanha, casa colocada a venda por 2 milhões de euros – cerca de 12 milhões de reais – estava entre os bens sequestrados da quadrilha, junto com 37 aeronaves, uma delas avaliada em R$ 20 milhões.

Justiça autorizou sequestro de casa avaliada em 2 milhões de euros (Foto: PF/Divulgação)

Quem é? – Major Carvalho foi preso pela primeira vez em 1997, quando já estava no quadro da reserva dos oficiais da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) – a carreira do policial militar durou 16 anos, ingressou na PM em 25 de janeiro de 1980 e se aposentou em 28 de maio de 1996.

Sérgio Carvalho foi pego em um hotel no Guarujá (SP), depois que 237 kg de cocaína foram flagrados em aeronave pronta para decolar de sua propriedade, a Fazenda Cordilheira, em Rio Verde de Mato Grosso (MS). Pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico ele foi condenado a 15 anos de prisão. 

Em 2007 e 2009, quando já cumpria pena em regime semiaberto, voltou a ser preso por envolvimento em jogos de azar, alvo das operações Xeque-Mate e Las Vegas, que colocaram “na mira” da Polícia Federal 140 PMs. 

Em 2010, virou notícia durante a Operação Vituvriano, também da PF, que apurou uma fraude ao espólio de José Olímpio, que morreu sem deixar herdeiros. Carvalho seria o chefe da quadrilha que tentava ficar com a herança do milionário, que vivia em São Paulo e morreu em 2005, deixando sem herdeiros uma fortuna estimada em mais de R$ 100 milhões. 

Vinte e dois anos após ser preso por tráfico de cocaína pela primeira vez, Sérgio Roberto de Carvalho foi expulso da PMMS. A demissão foi publicada no Diário Oficial do Estado do dia 7 de março de 2018.

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