Cidades

Jamilzinho atraiu filho de “Fuad”, diz testemunha

Relato foi ouvido em depoimento de abril à força-tarefa que investiga organizações criminosas

Nyelder Rodrigues e Marta Ferreira | 21/12/2020 18:03
Na foto, de 2017, Jamil Name, Jamil Name Filho e Fahd Jamil Georges; Name Filho teria atraído seis anos antes filho de Fahd para a morte, diz testemunha (Foto: Reprodução)
Na foto, de 2017, Jamil Name, Jamil Name Filho e Fahd Jamil Georges; Name Filho teria atraído seis anos antes filho de Fahd para a morte, diz testemunha (Foto: Reprodução)

Um convite irrecusável aos que estão acostumados com o poder aparentemente ilimitado que o crime organizado oferece: uma festa regada a mulheres e sexo fácil. Mas ali, apesar da suposta inocência do chamado de um amigo, havia mais: era o chamado para a morte e a mudança nos rumos das organizações criminosas do Estado.

O dia era 3 de maio de 2011 e aí pode ter sido selada a morte de Daniel Alvarez Georges, filho de um dos homens mais poderosos da fronteira entre o Brasil e o Paraguai - Fahd Jamil Georges, procurado inclusive pela Interpol.

Ao menos, é isso o que aponta as investigações da Operação Omertà, deflagrada em 2019 pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e Garras (Delegacia Especializa de Repressão a Roubo a Banco e Resgate), e que resultou na prisão de Jamil Name, Jamil Name Filho e vários funcionários dos mesmos.

Revela inicialmente pela revista Piauí e confirmada pelo Campo Grande News, que também já apurava o caso, a informação é que a ordem para matar Daniel partiu de um dos principais aliados atuais de seu pai, a família Name - vale ressaltar que, inúmeras vezes, a mesma investigação trata Fahd como padrinho de Name Filho.

Foto de "Danielito" que consta de processo na Justiça. (Foto: Reprodução)

Obtida em abril em depoimento referente a fase que apura crimes de agiotagem e extorsão cometidos pelo grupo liderado por Jamil Name, a informação que inicialmente causa estranhamento vem acompanhada de detalhes revelados por uma amiga de José Moreira Freites, o Zezinho, um dos principais pistoleiros dos Name.

"Zezinho" morreu na semana passada, aos 46 anos, em confronto com a polícia potiguar. A suspeita é que ele preparava ataque para matar um integrante do Poder Judiciário, serviço pelo qual, apontam as primeiras suspeitas, renderiam R$ 200 mil. Apontados como seus ex-chefes, Name pai e filho estão presos em Mossoró, a 270 km de onde Zezinho morreu.

No depoimento ao Garras, a testemunha diz que era amiga de "Zezinho" e que ele, em encontro ocorrido na estrada das Três Barras, em Campo Grande, contou estar envolvido na morte de 'Danielito', como era conhecido o filho da Fahd.

O relato que a testemunha afirma ter ouvido de José Moreira Freires é de que o filho mais velho de Fahd estaria interessado em comandar o Jogo do Bicho em Campo Grande, sob a gerência dos Name há décadas.

Daí, o plano: atrair Daniel para uma emboscada. A suposta festa aconteceria em área afastada e quem fez o convite foi Name Filho. Ao chegar ao local, porém, o encontrado não foi nada do prometido, e sim um forte aparato de armas. 

A partir desse dia, Danielito nunca mais foi visto. Os últimos registros vivos mostram que almoçou em churrascaria na Chácara Cachoeira e também esteve no Shopping Campo Grande. Nenhum resto mortal foi jamais achado.

No ano passado, a família de Daniel Georges obteve na Justiça decisão para que ele fosse dado oficialmente como morto. Entre as suspeitas, está a de que o cadáver foi colocado em recipiente com ácido e destruído, assim como se vê em filmes.

Conforme investigação jornalística do Campo Grande News, outra possibilidade plausível é de o corpo ter sido esquartejado e enterrado.

Efeito dominó - De lá para cá, uma sequência de execuções passaram a acontecer em Campo Grande e na fronteira, muitas atribuídas pela própria Operação Omertà à vingança pela morte da Danielito e também de Jorge Rafaat, que geria a fronteira sob a benção de Fahd Jamil enquanto ele estava escondido no Líbano.

Até aqui, não há na investigação a informação se o relato da testemunha citado neste texto já era de conhecimento de Fahad, que junto de seu filho, Flavio Correia Jamil Georges, é procurado na Omertà por liderar milícia armada na região de Ponta Porã, atuando em contribuição ao grupo chefiado na Capital pelos Name.

A força-tarefa da Polícia Civil criada para investigar o caso não detalha que reflexo terá essa revelação. Pela lei penal brasileira, a morte de Danielito ainda pode ser investigada. Assassinatos tem prazo de 20 anos para prescrever. 

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