Cidades

Dia do Índio este ano tem controle de fluxo nas aldeias contra coronavírus

Orientação é para que não sejam realizadas comemorações que gerem aglomeração

Lucia Morel e Liniker Ribeiro | 19/04/2020 13:39
Índio monta barreira na Aldeia Limão Verde, em Aquidauna. (Foto: Divulgação)
Índio monta barreira na Aldeia Limão Verde, em Aquidauna. (Foto: Divulgação)

Com uma população de 83 mil indígenas de oito diferentes etnias, índios de Mato Grosso do Sul comemoram o dia dedicado a eles dentro de casa. Lideranças e órgãos responsáveis pelas aldeias do Estado informaram que barreiras estão montadas em grande parte das comunidades e a orientação na data é de evitar qualquer tipo de comemoração que gere aglomeração de pessoas. Até agora, nenhum caso de covid-19 foi confirmado entre os indígenas de MS.

De acordo com a coordenação do DSEI/MS (Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul), ligado à Funai (Fundação Nacional do Índio), foi repassada orientação a todas as aldeias para que não fossem realizadas comemorações que gerassem aglomeração, bem como que qualquer celebração seja realizada após o fim da pandemia.

São pelo menos 130 aldeias no Estado em algumas delas, barreiras foram montadas para evitar a circulação indevida de pessoas. Não há confirmação se todas têm autorização do DSEI, mas segundo lideranças, muitas delas têm partido das próprias comunidades, que não querem ver proliferar a covid-19 entre os indígenas.

Aviso na entrada explica que quem não mora no local, não poderá entrar. (Foto: Divulgação)

Numa das maiores Terras Indígenas do Estado, a Taunay Ipegue, em Aquidauana, com sete aldeias da etnia terena, a saída de pessoas da comunidade é monitorada na entrada. “Só sai se for emergência e estritamente necessário”, diz Dionedson Terena, 42 anos, representante da liderança indígena de Mato Grosso do Sul.

Ele confirma que as comemorações foram mesmo suspensas e que as comunidades estão atentas ao combate ao novo coronavírus. “Já nas nas primeiras semanas dos casos, barreiras sanitárias foram montadas para diminuir o fluxo de indígenas e não indígenas nas aldeias”, conta.

Barreira também foi montada na Terra Indígena Taunay Ipegue, em Aquidauana. (Foto: Divulgação)

Também em Aquidauana, a Terra Indígena Limão Verde, com três aldeias, se organizou para reduzir o trânsito na localidade. E ainda em Miranda, onde detentos da cadeia local se infectaram com a covid-19, os indígenas também se mobilizaram para evitar contágio através do controle no fluxo de pessoas. 

Campo Grande – Na Feira Indígena ao lado do Mercadão Municipal, a presidente do local, Vanda de Albuquerque, 53 anos, explica que “se não fosse o coronavírus, hoje seria um dia de muita festa”. Mas reforça que “o período agora é de prevenção para controlar a pandemia”.

"O período agora é de prevenção para controlar a pandemia", diz Vanda. (Foto: Marcos Maluf)

As danças tradicionais realizadas no Dia do Índio dão lugar às orientações de prevenção e Vanda afirma que “a promessa é comemorar logo depois que tudo isso passar”.

Há 20 anos na feira, ela diz que tem muito orgulho de ser indígena e pede que os povos de MS se previnam, se cuidem, porque “essa doença não é brincadeira”.

No mesmo local, Cirlene Mota, 50 anos conta que a comemoração sempre foi marcada por visita aos familiares, seja nas aldeias ou na cidade, mas que este ano “está ruim”, porque o “jeito é ficar em casa”. “Está triste nas aldeias, ninguém entra e ninguém sai. Não vejo a hora de tudo isso passar”, afirma.

Problemas – Para Dionedson, um dos maiores problemas para a população indígena em MS é na cidade de Dourados, nas aldeia Jaguapiru e Bororó, onde parte dos 18 mil índios não têm água encanada, dificultando as ações de higiene. “Pedimos a Deus que o coronavírus não chegue lá”, destaca.

Segundo informações do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), em toda Reserva Indígena de Dourados vivem 18 mil indígenas Guarani Kaiowá e Terena dividindo 3.475 hectares de área.

No site do Conselho, se confirma a informação de que “a falta de água é constante em algumas regiões e persiste há mais de uma década. Muitas famílias precisam caminhar por horas para conseguir água ou contar com o abastecimento, feito de forma esporádica”, nas duas aldeias de Dourados.

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