Cidades

Com valor de sobrepreço, mais alunos teriam transporte, constata investigação

“Precisa-se mudar a cultura de que a licitação é um objeto de negócio", disse delegado da PF, Cleo Mazzotti, em coletiva

Anahi Zurutuza e Ronie Cruz | 28/05/2019 11:03
Sede da Crisptur, em Três Lagoas, uma das empresas alvos da operação (Foto: PF/Divulgação)
Sede da Crisptur, em Três Lagoas, uma das empresas alvos da operação (Foto: PF/Divulgação)

Com o valor superfaturado em contratos para o transporte escolar em Três Lagoas, mais alunos poderiam ser atendidos, ponderou o superintendente-substituto da CGU (Controladoria Geral de União) em Campo Grande, Lilson Saldanha, durante entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (28). Ele representa integrantes da força-tarefa, que junto com a Polícia Federal, investiga fraudes em contratos da prefeitura da cidade do interior com três empresas.

“Quanto a qualidade dos serviços prestados, não haveria problemas. A questão é os valores excedentes poderiam ter sido usado na prestação do serviços para uma quantidade maior de alunos. Este é o prejuízo”, afirmou.

O delegado Cleo Mazzotti, chefe da PF em Mato Grosso do Sul, complementou a ideia reforçando que licitações deveriam ser usadas para economizar o dinheiro público e não o contrário. “Precisa-se mudar a cultura de que a licitação é um objeto de negócio, ela não é. Quanto menor você consegue gastar com um contrato, melhor”.

Dinheiro apreendido em buscas (Foto: PF/Divulgação)

Atalhos - As investigações apontam fraude em três procedimentos licitatórios e contratações com recursos federais do Pnate (Programa Nacional de Transporte Escolar).

A Operação Atalhos identificou servidores e empresários envolvidos no esquema para direcionar as licitações para que determinadas empresas vencessem.

Os contratos, que somam R$ 12 milhões, são para a prestação de serviços de 2015 a 2017. Segundo a Polícia Federal, a apuração também chegou à soma de R$ 1,6 milhão em superfaturamento.

Os 21 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Três Lagoas, Campo Grande e Naviraí, além das cidades de Luiz Antônio e Americana, no interior de São Paulo. Treze investigados foram intimados a depor.

Deflagrada na manhã desta terça-feira (28), a força-tarefa esteve casa da ex-prefeita Márcia Moura e do ex-secretário de Educação, Mário Grespan. De acordo com a Rádio Caçula, ele foi levado para prestar esclarecimentos.

Também foram realizadas buscas na Secretaria de Educação de Três Lagoas. Outros endereços visitados são um escritório de contabilidade, Satélite 2, e uma empresa de transporte de passageiros, Crisptur.

No endereço de um dos “gestores alvos”, a PF encontrou dinheiro em espécie. Estima-se soma de cerca de R$ 4 milhões.

Carro adesivado que identifica a Crisptur como uma das empresas alvo da PF (Foto: PF/Divulgação)

Contratos – Com capital social de meio milhão –conforme registro da Receita Federal–, a Crisp Transporte e Turismo Ltda. conquistou em 2015 contrato de R$ 1.587.450,00 para fazer o transporte de alunos da área rural da rede municipal de ensino de Três Lagoas.

No dia 3 de junho daquele ano, outras duas empresas foram contratadas, conforme publicação em Diário Oficial do Estado, por R$ 1.677.424,00 e R$ 2.239.056,00.

Além de atender a Secretaria de Educação, a Crisptur também prestava serviços para a Secretaria de Saúde. Em 2016, a empresa ganhou contrato de R$ 2 milhões para transportar pacientes de Três Lagoas para tratamentos no interior de São Paulo.

 

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