Cidades

Apesar de recorde entre brancos, covid mata mais pardos, índios e pretos em MS

Levantamento do Campo Grande News mostra os números da doença em cada etnia de Mato Grosso do Sul

Guilherme Correia | 30/08/2020 14:36
Mulher caminha utilizando máscara, acessório recomendado por autoridades de saúde, no Centro de Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Mulher caminha utilizando máscara, acessório recomendado por autoridades de saúde, no Centro de Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

Apesar de ter infectado mais pessoas autodeclaradas brancas em Mato Grosso do Sul, a covid-19 é quase duas vezes mais letal entre a população parda, e proporcionalmente, também mata mais índios e pretos no Estado.

Os pardos detém maior taxa de mortes conforme levantamento feito pelo Campo Grande News, com base em dados divulgados pela SES (Secretaria Estadual de Saúde) até quinta-feira (27).  Nesse grupo, a letalidade atingiu 2,37% na 35ª semana epidemiológica, encerrada ontem.

De acordo com o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 47% da população sul-mato-grossense se declara branca, enquanto 43% se considera parda. Mas apenas 1,23% dos brancos faleceram após contrair o coronavírus.

Já entre os índios, a taxa está em  2,11% e entre pretos fica em 1,51%.

O professor e pesquisador pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) Adeir Archanjo da Motta, diz que a distância entre os grupos em relação a fatalidade pode ser maior. Segundo ele, há ainda um cenário de subnotificação da covid-19 entre populações indígenas, já que "muitos morrem de SRAG [Síndrome Respiratória Aguda Grave] não específica, e que já matou mais de 7,4 vezes no Estado". Esse casos acabam não entrando na contagem oficial do coronavírus.

Aqueles que, socialmente, têm mais acesso a recursos financeiros, também têm mais acesso a testes. Com a assistência de saúde e melhores diagnósticos, você consegue saber do que você está adoecendo, e prevenir que o contágio não seja na sua comunidade", explica.

Ele cita que o cenário não é "exclusividade" da covid-19. "Qualquer indicador de saúde vai chegar nas mesmas conclusões. É uma 'desigualdade social da saúde'. Onde você nasce determina quantos anos de vida vai ter e como vai ser sua saúde, como você vai viver, comer e adoecer. Isso não é uma 'prisão fechada', porque podemos mudar nossa realidade, mas o contexto influencia".

No início de agosto, o Estado chegou a ficar em primeira posição no ranking entre unidades federativas brasileiras na média móvel de mortes pela doença, conforme levantamento do consórcio de veículos de imprensa.

População indígena - Em 13 de maio, a SES reportou o primeiro caso da doença em aldeia indígena. Tratava-se de uma funcionária de frigorífico, de 35 anos, moradora de Dourados, a 233 quilômetros de Campo Grande. Em poucos mais de 30 dias depois, um indígena, de 59 anos, faleceu da doença no mesmo município.

O início da transmissão em Dourados já preocupava a Secretaria quanto aos povos indígenas, já que Dourados possui maior população deste grupo em Mato Grosso do Sul com mais de 17,3 mil indígenas.

Se levarmos em conta o mais recente Censo realizado pelo IBGE, cruzando a quantidade de mortes, é dentre os povos nativos de Mato Grosso do Sul que a doença possui maior mortalidade. Dentre os mais de 70 mil indígenas do Estado, que compõe cerca de 3% dos sul-mato-grossenses, já eram 51 mortes até sexta-feira (28).

Homem caminha de máscara em periferia de Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

Mortalidade X letalidade - Dois indicativos aparecem no detalhamento da covid. A mortalidade faz relação com o número total de moradores da etnia em mato Grosso do Sul. A letalidade diz respeito ao percentual que foi contaminado e morreu.

O segundo grupo mais afetado em taxa de mortalidade aqui no Estado é a população autodeclarada amarela. Dentre os quase 30 mil habitantes com origem asiática (cerca de 1,2% da população), 18 faleceram da covid-19.

Apesar disso, o grupo é o que possui menor taxa de letalidade - ou seja, maior quantidade de pessoas resistiram e se recuperaram da doença. Dentre os mais de 3 mil infectados, mais de 1,2 mil moram em Campo Grande.

Em um estado com “surtos epidêmicos”, conforme afirma a médica infectologista Mariana Corda, os epicentros se alteraram de acordo com que as semanas se passaram. Dourados chegou a ser o principal foco da doença - "posto" ocupado atualmente por Campo Grande.

Em Campo Grande e Corumbá, não há surtos específicos. O aumento é dado pela alta transmissão da doença, e a maioria das pessoas não sabe como pegou [coronavírus], ou pegou durante suas atividades habituais”, comenta a infectologista.

Túmulos no Memorial Park, no Bairro Universitário em Campo Grande, em foto tirada em meados de julho (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Nos siga no