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Travessia

Por Francisco Habermann (*) | 20/04/2018 06:52

Os gargalos na vida nos surpreendem. Não são esperados, não parecem programados, nem previstos. São os estreitos caminhos pelos quais devemos passar. Verdadeira travessia. Mas devemos ir em frente, sempre. Sem jamais perder a esperança.

Aprendi isso em casa diante de dificuldades e adversidades da própria existência. Foram lições preciosas transmitidas pelo pai e pela mãe a nós, os filhos.

Nunca esquecemos a lição maior da mãe que exemplificava com o trabalho persistente, não permitindo qualquer interferência na busca do êxito que beneficiaria a todos. E não só a favor dos familiares, mas também de quem merecesse sua dedicação sincera.

Foi com esses exemplos de persistência no trabalho que eles conseguiram nos transmitir o bom ânimo para o progresso próprio. Essa foi a lição dos pais.

Mas a vida surpreende e exige forças e lutas para a transposição de barreiras inesperadas. Trata-se de real travessia. Isso acontece com todos os viventes.

Pessoalmente, sentindo o tempo transcorrer, a vida escoar, faço as reflexões que norteiam a existência própria.

Se estamos na Terra para galgar entendimento, cada um à sua moda, com seus recursos, com a sua capacidade própria, a partir das orientações familiares primeiras, entendemos que a esperança deve prevalecer sempre diante das lutas existenciais, inevitáveis. Todos enfrentam dores vivenciais. Assim, penso, é preciso ter compreensão das suas causas e essa é a parte difícil.

Aqui, preciso confessar, quero chorar o choro da minha incompreensão própria. Isso está me pesando no coração, especialmente após uma leitura fortuita.

Aconteceu após rever um provérbio: “Quando não compreendemos a dor, ela nos dilacera. Quando entendemos seus fins, ela nos aperfeiçoa”.

Quero chorar essa dor decorrente da minha falta de compreensão. Uma dor profunda, que dilacera o peito, que faz sofrer e desabar. Tão forte que nem mesmo o valente Milton Nascimento aguentou e, com a letra de Fernando Brant, canta:

“Forte eu sou, mas não tem jeito /

Hoje eu tenho que chorar”

( Tavessia, 1967 )

(*) Francisco Habermann é professor da Faculdade de Medicina da Unesp em Botucatu. Contato: fhaber@uol.com.br. 

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