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Temos uma crise, ou seja, há oportunidades educacionais

Por Ronaldo Mota (*) | 22/01/2016 07:36

As instituições de ensino se caracterizam, sobretudo, por serem complexas e diversificadas, vivendo em uma espécie de "crise permanente", que reflete um mundo de desafios sempre presentes. E as oportunidades estão associadas a continuar expandindo o acesso à educação em todos os níveis, em escala e em qualidade, mesmo quando o cenário externo indica aumento de desemprego e diminuição de poder aquisitivo.

Albert Einstein, talvez o mais brilhante cientista do século passado, pouco antes de seu falecimento, em 1955, deixou o seguinte comentário: "Crise é a benção que pode ocorrer com as pessoas e países porque traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite. É na crise que nascem invenções, descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar superado. Sem crise não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina. Sem crise não há méritos. É na crise que aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la. Acabemos com a única crise realmente ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la".

É preciso perceber, e o quanto antes melhor, que,na educação,mudanças profundas estão em curso e precisamos identificá-las, entendê-las e usá-las estrategicamente. Por exemplo, no ensino superior, entre tantas outras novidades, o estudante ingressante não é mais somente aquele jovem que recentemente completou o ensino médio e, quase precocemente, se definiu por esta ou aquela futura profissão. O perfil contemporâneo, progressivamente, inclui um novo público mais adulto, com suas características específicas, demandando naturalmente novas metodologias de ensino, a incorporação competente das tecnologias digitais e outras abordagens de aprendizagem diferenciadas.

Há que se focar no educando, conhecê-lo profundamente e tercomo maior motivação a formação de profissionais competentes e inovadores aptos a enfrentar os desafios de um futuro basicamente incerto e quase imprevisível. Precisamos caminhar de forma acelerada em direção a uma educação híbrida e flexível, onde as boas características de ambas as modalidades, presencial e a distância, poderão ser contempladas simultaneamente e de forma, muitas vezes, complementar.

Enquanto no ensino tradicionalpriorizava-se o desempenho individual, nas abordagens educacionais contemporâneas o trabalho em grupo ocupa espaço preferencial, estimulando o produzir em equipe. O espaço de aprendizagem tipicamente delimitado pela escola espalha-se pelo não espaço que contempla o ambiente doméstico, o do trabalho e o caminho de um para outro.De fato, estamos diante de um novo paradigma espaço-temporal, sem limites de qualquer natureza.

Na educação superior,o que esperar de um profissional formado é tudo menos o mesmo, se compararmos décadas atrás com os tempos atuais. Um grande complicador é que o que se espera atualmente, em termos de competências, inclui os requisitos de ontem, somados aos novos atributos. Um resumo de todas as mudanças está na diferenciação entre competência técnica e competências múltiplas, ou, em outras palavras, entre cognição e metacognição.

Houve um período que era quase suficiente o domínio de um conjunto razoavelmente delimitado de conhecimentos, associado a processos cognitivos e a um elenco restrito de técnicas e procedimentos básicos contidos nos currículos-padrão definidos para cada profissão.

O dilema atual é que o cenário acima simplesmente não funciona mais.Em complemento à competência técnica, existem múltiplas habilidades, associadas ao mundo da metacognição, a serem desenvolvidas e estimuladas. O aspecto comportamental é absolutamente crucial quando um profissional depara-se com um problema inédito, um tema inovador ou tecnologias recentes.

Enfim, crises existem para serem superadas e educação de qualidade e para muitos é, de longe, a melhor ferramenta contemporânea de que dispomos.

(*) Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio

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