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Que tal falar sobre sexo?

Por Cássio Gonçalves (*) | 16/02/2015 08:49

Imagine uma reunião ocasional de uma família tradicional. Todos a comentar banalidades, até queoadolescente diz, fora de contexto,a palavraproibida: sexo! Não é difícil imaginar as cenas seguintes. Os mais velhos arregalariam os olhos. A mãe, envergonhada,repreenderia: “O que é isso, garoto!?”. O pai, entre a moral e o orgulho machista, se calaria. Já os primos, se alternariam entre a zoeira e os risos sorrateiros de meia boca. Nenhuma palavra a mais, vira-se a página e passa-se ao próximo assunto... A oportunidade ideal para tratar sobreum dos tabus mais venenosos da atualidade é desperdiçada.

Vigora em nosso tempo o pleno funcionamento de um mecanismohumanamente perverso. Enquanto, por um lado, as propagandas mercadológicas e as programações televisivas incentivamo sexo, por outro, a moral religiosa o reprime, tendo o medo milenar do fogo do inferno a tiracolo. O resultado não poderia ser diferente: nega-se a falar abertamente sobre o assunto nasegurançado ambiente familiar, enquanto bordeis e práticas abortivasse multiplicam no submundo social.Sem contar os casos de estupro, pedofilia...

No entanto,nem é preciso chegar aessas consequências mais extremas para diagnosticar o quão patológico é tal mecanismo de estímulo e repressão do segundo degrau da Escala de Maslow. Basta verificarna internet o incalculável número de sites voltados à demanda de viciados em pornografia para se ter uma ideia. Não se trata, aqui,de se querer limitar o que o indivíduo pode ou não optar como lazer pessoal, mas, sim,sublinharos efeitos prejudiciais do hábito, que atingem dimensões sociais.

Pesquisas recentes da área de psicologia comprovam que a pornografia “enfraquece”o córtex pré-frontal, área do cérebro humano responsável pelo ‘controle executivo’ das decisões pessoais. Isso significa que o consumo desse tipo de conteúdo, bastante usado para compensar as tensões sexuais reprimidas,deixa as pessoas mais impulsivas e infantis, menos aptas atomarem decisões racionais para lidar com a vidaprática. Para ilustrar as consequências potenciais desse tipo de vício, lembremos que as pessoas impulsivas, isto é, aquelas que não pensam antes de agir,estão mais propensas a tomarem atitudes perigosas, como a prática de crimes, por exemplo...

Não precisa ser assim. Está comprovado que o sexo, praticado com compromissoe afetividade, é capaz de ‘inundar’ o organismo humano com os neurotransmissores responsáveis por gerar bem-estar, saúde e equilíbrio. Aumenta a inteligência, a sensibilidade, a criatividade e o prazer de viver. Mas, enquanto o assunto fortratado como tabu, não haverá a naturalidade necessária para o surgimento derelacionamentos saudáveis a esse ponto. É hora de romper os tabus e passar a dar ao tema a dimensão inerentemente humana que lhe cabe.

(*) Cássio Gonçalves é músico e jornalista

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