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Quando um conceito se corporifica na docência remota

Erika Neres Markuart (*) | 16/04/2021 13:25

Explicar um conceito em uma dissertação de mestrado não é tarefa fácil, ainda mais quando é em outro idioma. O conceito de breakdown foi central em meu trabalho, que tinha como objetivo pesquisar os movimentos que fazem parte da formação de futuras professoras e pedagogas. Para minha surpresa, em março de 2020, vivemos um breakdown de súbito em nossas vidas, pois tivemos de reaprender a fazer todas as nossas atividades de forma diferente. Um breakdown é um colapso cognitivo que nos desestabiliza mas não nos paralisa completamente. 

Considerando a realidade pandêmica e a temática de minha dissertação, ficou iminente a importância de conversar com professoras que estavam trabalhando durante a pandemia da covid-19. Organizei oficinas figurativas e convidei professoras e pedagogas para falar dessa experiência, por meio de metáforas. Tal estratégia facilitou o diálogo e auxiliou na compreensão dos efeitos da pandemia no trabalho docente. 

Além de uma produção acadêmica, me vi compondo um espaço de escuta e acolhimento (feito via internet) para essas professoras, que assim como tantas outras foram colocadas diante de uma situação-limite pela sociedade, escolas e governos, uma vez que não tiveram tempo hábil para compreender todos os afetos e potencialidades dessa experiência inédita. Acredito que, como sociedade, perdemos uma ótima oportunidade de construir com a instituição escola.

A figuração que escrevi atenta para a relação que as professoras estabeleceram entre o tempo e o seu fazer profissional, mostrando que tanto antes quanto durante a pandemia algo sempre precisou ser inventado. Antes era necessário lidar com os obstáculos advindos das más condições das escolas e do sistema de ensino público; neste momento, o desafio é lidar com o novo processo de ensino e aprendizagem que foi estabelecido compulsoriamente com a chegada da pandemia. São muitos os afetos produzidos a partir dessa experiência pandêmica. A sensação de estarem paradas, provocada por uma falsa ideia de inércia, uma vez que elas não precisam, não podem sair de suas casas para exercer seu ofício. As aulas assíncronas impactam de maneira provocativa as professoras tanto pela desorganização das mantenedoras quanto pela mudança do lugar de protagonismo anteriormente exercido pelas docentes. 


(*) Erika Neres Markuart, é pedagoga e mestra em Psicologia Social e Institucional e atua como membra externa do grupo Oficinando em Rede, do Núcleo de Ecologias e Políticas Cognitivas da UFRGS.

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