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Pedagocia do abuso ou "a persistência do mal"

Por Valfrido M. Chaves (*) | 14/10/2013 10:56

Diz-se que não convém acomodar-se à maldade e ao abuso. Além das conseqüências imediatas de qualquer ação destrutiva, a acomodação a ela gera efeitos continuados que devem ser analisados, conforme a área da vida humana ou social que afete.

Sem o conhecimento da dinâmica do exercício e conseqüências da maldade, não há como fazer um juízo crítico, sanar cicatrizes e fazer sua prevenção. Estas considerações vêm a propósito da franca deterioração que se abate sobre a sociedade brasileira num momento em que a propaganda oficial anuncia ganhos de recuperação social e econômica estabelecidos, ironicamente, com o continuísmo irracional da política econômica FHC que ainda é, nos palanques oficiosos, apontada como “herança maldita”.

Concomitantemente, o banditismo dá um salto de qualidade e, se não domina, já pode levar o caos às duas maiores capitais brasileiras.

Nota-se ainda que o famoso “peleguismo”, que já denegriu a função de tantos sindicatos, hoje se manifesta também em organizações ditas sociais que, financiadas por dinheiro público, cumprem a agenda ideológica daqueles que controlam o poder e o cofre.

Essa agenda, senhores, caminha incutindo nas massas a noção de que os nossos direitos e valores democráticos são um estorvo. Eles devem ser atropelados pela militância que enche a boca para falar em Estado Democrático e de Direito no momento em que ele lhes assegura prerrogativas até para destruí-lo, mas passa a ser nomeado como “democracia burguesa”, quando se trata de romper com as normas mínimas de civilidade que possibilitam o convívio democrático.

Tais rupturas pretendem ser pedagógicas e exemplares para grupos manipulados, pois prepara o clima e quadros para o grande golpe através do qual pretendem obter seu triunfo ideológico totalitário. Eis, leitor, algumas “lições exemplares” de abuso que temos testemunhado:

-o espancamento do prefeito Mario Covas por organizações pelegas quando, leucêmico, tentava entrar na Prefeitura de SP, da qual era prefeito. Conforme a imprensa, a ação recebeu apoio explicito do PT, através do Deputado José Dirceu que teria então afirmado: “se estivesse lá, faria a mesma coisa”;

-efetuar oficiosamente o financiamento de organizações especializadas em promover invasões e seqüestros em propriedades rurais, premiando a tais ações com verbas públicas, confirmando para seus executores que a prática abusiva tem “costas largas”;

-premiar também invasão e depredação de instituições públicas que sejam simbólicas como representação do Estado, tal como o Congresso e Ministérios;

-promover abertamente o acobertamento e impunidade da corrupção e seus agentes, quando efetivada com objetivo de domínio político-partidário. Tal postura tem por objetivo mais desmoralizar a “democracia burguesa” e suas instituições, conforme conhecida lógica maoísta.

-fechar os olhos ao financiamento e manipulação estrangeira de invasões indígenas, dando cobertura, através do movimento social pelego, a todo tipo de crimes que então se dêem;

-impedir a prosperidade e integração das populações indígenas com a sociedade em geral, semeando ódios para, especialmente nas fronteiras, construir condições para futura impactação dessas fronteiras e nossa soberania, bem como “irrigar” a luta de classes com o ódio étnico;

-semear a descrença nas instituições e no Estado Democrático, quando a mais alta autoridade da Republica e seu Partido assumem a mentira e o acobertamento como respostas aos crimes denunciados pela CPIs e nossa imprensa, tais como o Mensalão, o Valerioduto;

Como pode concluir o leitor, o mal não se esgota em suas conseqüências imediatas, seja no caso de uma invasão, depredação, espancamento, corrupção, assassinato. A vulgarização dessas práticas como exemplares e a desmoralização do Estado Democrático e de Direito vêm a reboque e, seguramente, esses são os objetivos a serem atingidos, graças ao clima de frouxidão moral pedagogicamente estabelecido, volto a dizer, conforme a prática maoísta-leninista em curso.

Lamentavelmente, é o que se passa hoje, na “Nação de chuteiras”, neste junho de 2006.

(*) Valfrido M. Chaves é psiquiatra. 

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