Os microrganismos e sua utilização na medicina e em tratamentos estéticos

O estudo dos microrganismos e de seus respectivos compostos, assim como a sua experimentação, tem se tornado extremamente relevante devido ao aumento de suas aplicações em diversas áreas, incluindo as indústrias de materiais, de alimentos, biotecnológica, médica e estética. As bactérias, os fungos e as microalgas apresentam diversas aplicações, pois são responsáveis pela produção de enzimas, neurotoxinas, ácidos, pigmentos, entre outros compostos. Além disso, com o advento da tecnologia de DNA recombinante e da engenharia de proteínas, o microrganismo pôde ser manipulado e cultivado em grandes quantidades para atender ao aumento da demanda por esses produtos.

Nos últimos anos houve um crescimento em relação a produtos ditos naturais, acrescentando valor estratégico às indústrias de cosméticos, devido à alusão à biodiversidade. As metodologias que utilizam microrganismos como fonte de matéria-prima, em comparação aos métodos químicos convencionais, são a alternativa preferida em questão de preservação ambiental, pois não contribuem majoritariamente para a poluição do ambiente. A maior vantagem de utilizar ingredientes oriundos de microrganismos é a sua biocompatibilidade, além de outros benefícios, como um processo simplificado e a melhoria na qualidade do produto e na preservação ambiental. 

Embora os microrganismos estejam intrinsecamente ligados a patologias, a modernidade nos permitiu utilizá-los de maneira terapêutica, tratando diversas condições que afetam a saúde do ser humano. Algumas enzimas produzidas por microrganismos são utilizadas na medicina, como a L-asparaginase, devido a sua ação antitumoral e utilização no tratamento da leucemia linfoblástica aguda. Outros exemplos são a estreptoquinase, devido a sua ação anticoagulante, e a urato-oxidase, utilizada no tratamento da gota. Além de enzimas, os microrganismos são responsáveis pela produção de outros compostos, como os carotenoides, especialmente o betacaroteno, com sua ação antioxidante e potencial de diminuição do risco de doenças cardiovasculares; as estatinas, utilizadas como tratamento para distúrbios do perfil lipídico sanguíneo; e a toxina botulínica, a neurotoxina utilizada no tratamento do estrabismo.

Na área da cosmética, os microrganismos desempenham papel crucial na produção das substâncias utilizadas nos tratamentos estéticos e na formulação dos cosméticos. Os compostos utilizados incluem o ácido deoxicólico, utilizado para o processo de lipólise no tratamento conhecido como “lipo enzimática”, o ácido hialurônico, utilizado em preenchimentos faciais e na composição de cosméticos com função hidratante, o ácido lático, composto com importante ações de esfoliação e antipigmentação, os biopigmentos, importantes compostos na experiência sensorial dos cosméticos, os biossurfactantes, utilizados por sua capacidade emulsificante, e a toxina botulínica, utilizada no tratamento e na prevenção de rugas.

Como se vê, o diverso mundo dos microrganismos apresenta uma variedade de organismos terrestres e marinhos produtores de compostos importantes para a indústria médica e cosmética.

Embora apenas uma pequena porção do potencial desses organismos tenha sido pesquisada e utilizada industrialmente, o crescente avanço na pesquisa e nas tecnologias de manipulação gênica permitirá que, cada vez mais, microrganismos sejam utilizados para a produção das mais diversas substâncias que fazem parte da rotina médica, biomédica e farmacêutica. Pela magnitude do assunto, ainda é necessário que se realizem muitas pesquisas envolvendo os produtos de microrganismos, gerando uma imensa gama de oportunidades na área acadêmica, assim como na prática médica e estética.

(*) Gabrielle Pavelak Silveira é graduanda do curso de Biomedicina na UFRGS. 

(*) Marisa da Costa é professora do departamento de Microbiologia, Parasitologia e Imunologia da UFRGS.