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Os anéis do professor Fagundes

Por Heitor Freire (*) | 15/03/2016 08:09

A política é uma sinfonia que tem que ser tocada a muitas mãos. E elas precisam estar muito bem harmonizadas para que o tom não atravesse. É preciso uma sintonia fina. E uma perfeita maviosidade entre os executantes com instrumentos muito bem afinados.

Normalmente a política é executada de forma pública, ostensiva. Quando alguém se propõe a desenvolver um trabalho de conscientização de forma anônima, merece o aplauso pela forma como se dedicou a esse mister.

Refiro-me ao professor Lourival Martins Fagundes, engenheiro agrônomo, economista, professor universitário, que, como assessor parlamentar do senador Lúdio Coelho, secretário de planejamento de suas duas administrações como prefeito e também como secretário geral do PSDB, e sob a inspiração dele, elaborou um trabalho para ampliar a participação da mulher na política.

Nada mais oportuno que nesta semana de comemoração do Dia da Mulher se recorde essa atividade que foi muito bem pesquisada, planejada, executada e divulgada em um livro: Formação Política. Meta para os Partidos. Desafio para as Mulheres.

A partir da pesquisa, o professor Fagundes criou um sistema e o denominou “oito anéis”: A mulher tem baixa representação na política; nossa educação é machista; há poucas candidatas a cargos eletivos; mulher não vota em mulher; mulher não vê importância na política; mulher tem pouca cultura política; mulher é discriminada na política e mulher não quer cargos de comando.

Com esses anéis definidos, começou uma vilegiatura por todos os municípios de nosso estado, realizando reuniões com as mulheres de cada cidade provocando-as e conscientizando-as para a necessidade imperiosa da participação delas na política para o aprimoramento das nossas instituições, buscando bagagem diretamente da fonte conversando com elas sobre filosofia política, ciência política, a ideologia social-democrata, e sobre o que elas poderiam fazer para mudar o estado e o conteúdo da representação política nacional.

O ponto de partida foi a constatação do senador Lúdio Coelho de que “a mulher tem muita dificuldade para mentir, de se envolver com o ilícito e uma forte vocação natural para honrar a palavra empenhada”. Uma visão de estadista que tinha sensibilidade a respeito da importância da mulher, não só na política, mas em todas as atividades. Ele teve como exemplo a sua companheira de toda a vida, que tinha uma personalidade forte e marcante: dona Nilda Coelho.

Fagundes realizou mais de 100 reuniões, sendo 30 em Campo Grande, falando principalmente sobre o que era a política e para que servia. Faziam parte de sua equipe: Maria José Barbosa, pedagoga com especialização em gestão escolar; Rosana Domingues, administradora de empresa; Eliana Regasso, especialista em marketing e propaganda e Nadir Vilela Gaudioso, advogada criminalista especializada em direito eleitoral. Todas trabalharam de forma voluntária, sem remuneração.

No encontro de Alcinópolis, uma gari da prefeitura, analfabeta, no final da reunião pediu a palavra e disse que após aquela reunião ela decidiu procurar uma escola para aprender a ler e acrescentou que não dava para aceitar o fato de alguém ficar perto dela para ler o questionário de avaliação. Todos saíram dali com uma nítida ideia de que política é coisa séria.

Ficou claro que a intenção do falecido senador Lúdio Coelho foi atingida deixando uma semeadura que, a médio prazo, certamente produzirá frutos abundantes.

O professor Fagundes, que escreveu 17 livros sobre os mais variados assuntos, contribuiu de maneira decisiva para a conquista dos objetivos colimados.

Parabéns, professor Fagundes. Parabéns à sua equipe e às mulheres que tiveram a oportunidade de pensar de forma clara a respeito desse tema que era obscuro para elas. Realmente tiveram uma orquestra afinada e harmônica com um maestro muito competente para estimular e abrir as suas mentes e corações.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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