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Evitar tropeçar versus saber levantar

Por Ronaldo Mota (*) | 20/02/2015 10:32

As teorias educacionais são, em geral, ancoradas em seus procedimentos, metodologias e referenciais teóricos, decorrendo daí as respectivasabordagens efocos. Não seria nenhum exagero afirmar que a imensa maioria dos procedimentos, metodologias e abordagens tem tradicionalmente adotado como objetivocentral evitar os tropeços dos alunos. Fundamentalmente, o ensino tradicional, ao informar,o faz para que o educando acerte e evite os erros. De forma resumida, ter sucesso, normalmente, quer dizer "não tropeçar", sabendo responder as questõescorretamente e completando,positivamente, os desafios apresentados.

Mais do que simplesmente aprovar os que acertam e reprovar os que erram, a cultura educacional estabeleceu como referências aqueles que tudo sabem e nada erram, fruto essencialmente de estarem bem informados eterem boa memória, reverenciando-os como vitoriosos e exemplos a serem seguidos no processo ensino-aprendizagem.
Os modelos padrão e suas práticas usuaisde ensino têm sobrevivido porque níveis razoáveis de sucessopuderam ser observados no passado, gerando a expectativa de que provendo informações com competência e evitando os tropeços,teríamos solução educacional também para o presente e, eventualmente, até mesmo para o futuro.Nada mais ingênuo. Os novos tempos apresentam mudanças profundas com desafios inéditos e o ensino tradicional dá mostrasclaras de incapacidade de decifrá-los ou resolvê-los.

Entre as rápidas mudanças em curso, está aquela que torna progressivamente a informação o produto mais disponível e o mais barato da atualidade. O surgimento de uma sociedade em que a informação está totalmente acessível, instantaneamente disponibilizada e gratuitamente adquirível traz consequências educacionais ainda não assimiladas e, por vezes, sequer percebidas. As metodologias, as ênfases e os focos demandam imediatas mudanças, em especial deslocando o centro do simples saber, enquanto ser informado, em direção ao complexo saber resolver, baseado na informação assumida como completamente disponível, online e gratuita.

Mais do que o acesso à informação, saber selecioná-la e, em equipe, saber decifrá-la e resolver os problemas passam a ser atitudes fundamentais, tanto no mercado de trabalho como na vida. O ensino por etapas dá lugar à educação ao longo da vida,onde o aprender a aprender é mais relevante do que o aprender em si. Além daquilo que se aprende, ter consciência e domínio sobre o "como se aprende" passa a ser prioritário.

Assim, os novos tempos impõem uma realidade em que é mais importante focar no aprender os procedimentos de superação após o erro do que a obsessão simples por nunca tropeçar. Não há nenhuma garantia de que aquelesque nunca tropeçaram saberão levantar caso errem. Mas há fortes indicadores de que aqueles que aprenderam a aprenderterãotodas as condições de superação. Os "erros" mais do que serem vistos como naturais, podem ser parte integrantes e indispensáveis do processo ensino-aprendizagem. Muito mais importante que evitar tropeços, portanto, é aprender a levantar.

(*) Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá e diretor de Pesquisa do Grupo Estácio

 

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