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Empoderamento, sororidade e autonomia das mulheres

Por Ângela Rosa da Silva, Aparecida Gonçalves, Eunice Léa de Moraes | 08/09/2017 13:10

O movimento de lutas das mulheres configura-se como um espaço privilegiado para tratar sobre as desigualdades, discriminações, violências morais, físicas, psicológicas e sexuais ainda sofridas pelas meninas, pelas adolescentes e pelas mulheres, no ambiente doméstico, no trabalho e na sociedade. Diante desse panorama, torna-se importante refletir sobre questões de base como: poder, solidariedade e liberdade.

A relação entre empoderamento, sororidade e autonomia das mulheres no campo do feminismo, tem um debate longo, porém, nem sempre é compreendida ou conhecida pela maioria das mulheres e agora reforçada pelo cenário político mundial que se apresenta confuso, inseguro, com alguns retrocessos dos direitos humanos, principalmente das mulheres e da população negra, demonstra que esses temas estão longe de serem tratados pacificamente.

A confusão estabelecida em alguns parlamentos, governos e camadas da sociedade sobre as dimensões políticas, religiosas e as suas consequências para as práticas da intolerância, do racismo, do sexismo, da homofobia e da misoginia, são decorrentes da falta de compreensão sobre Estado laico. A laicidade do Estado é a garantia da liberdade religiosa de todas as pessoas. O Brasil é oficialmente um Estado laico, pois na Constituição Brasileira1, além de outras legislações, está previsto a liberdade de crença religiosa aos cidadãos e cidadãs, além de proteção e respeito às manifestações religiosas.

Para contribuir com o debate há que se recuperar o sentido desses temas no contexto do feminismo. Um primeiro aspecto é o entendimento do significado e a origem de cada um – Empoderamento, Sororidade e Autonomia.O Empoderamento que vem do inglês empowerment, que traduzido significa uma ação coletiva que os indivíduos desenvolvem em lugares distintos de decisões, de consciência e de direitos sociais em que participam. O empoderamento permite a obtenção de uma emancipação individual e, consequentemente, da consciência social coletiva, fundamental para a superação do atrelamento social e dominação política em que se encontrem.

O empoderamento, que o feminismo interseccional apregoa, vai na direção do restabelecimento do poder e da dignidade das mulheres norteado pelo estatuto de cidadania plena, que assegura principalmente, a liberdade de decidir e controlar sua própria vida, seu próprio corpo, suas próprias ideias com responsabilidade e respeito a si mesma e a outra pessoa. Empoderamento ligado ao poder coletivo das mulheres.

Articulado à este empoderamento feminino que traz uma nova compreensão do poder com outras nuances de democracia, de responsabilidades coletivas e de decisão, está a Sororidade e a Autonomia. A Sororidade2 que conceitualmente está fortemente presente no feminismo, significa a união, a irmandade.
Uma aliança solidaria entre mulheres é alicerçada no companheirismo, na empatia, na fraternidade e no alcance de objetivos comuns. A base dessa aliança está centrada nas dimensões éticas, políticas e práticasdas mulheres nos movimentos pela igualdade de gênero e etnicorracial, que se unem para reivindicar, conquistar e continuar na luta.

A Autonomia3 esta conceituada em várias áreas do conhecimento humano. Na Ciência Política, está relacionada a um governo próprio que elabora suas próprias leis, suas regras e tomadas de decisões sem intromissão de um governo central.Na concepção da Filosofia, a autonomia gera a liberdade dos indivíduos para tocar livremente a sua vida com racionalidade. Já na área da Educação, a autonomia revela a capacidade da pessoa em organizar seu processo de aprendizagem sozinha, independente da figura do (a) professor(a).
Autonomia para as mulheres abarca principalmente, a esfera econômica e financeira, onde possam prover seu próprio sustento e de sua família, gerando trabalho, renda, liberdade e condições para suas próprias escolhas profissionais e pessoais.

Autonomia diz respeito ao tempo utilizado para a realização de tarefas partilhadas entre as pessoas, como cuidar dos filhos e filhas, das pessoas idosas, da conservação da casa, da roupa etc., para que as mulheres, que majoritariamente, acabam realizando essas tarefas possam ter tempo para o laser, para a participação política, para o seu processo formativo, para o seu cuidado pessoal ou para outra atividade de sua livre escolha.
Um outro aspecto nessa relação de poder, solidariedade e independência é o pressuposto da concepção revolucionária do feminismo não binário enquanto movimento social, político e filosófico que objetiva alcançar direitos equânimes ou seja, iguais, via o empoderamento e a libertação das normas e patrões dogmáticos, dominadoresde origem patriarcal, para a superação da concepção sexista.

Uma abordagem que entrelaça o empoderamento feminino, a sororidade e a autonomia das mulheres, permite enfrentar o desafio de combater o poder dos sistemas de dominação e exploração de classe, gênero, raça e a sustentação dos privilégios classistas e de gênero.

Nessa abordagem,a luta de classe é também contra o racismo e o sexismo, seja coesa e convincente na medida em que possibilite tematizar ideias e práticas sobre a dominação interseccional de classe, raça e gênero, da violência doméstica e sexual, das desigualdades e discriminações, nas suas especificidades de maneira coletiva, autônoma e solidaria.

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