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Da Cizânia, por Heitor Freire

Por Heitor Freire (*) | 12/05/2011 11:00

Há uma característica interessante no ser humano: a discórdia. Desde que o homem foi criado por Deus, se instalou em seu interior o vírus da discórdia (que muitas vezes se trasveste pelo vírus da traição), – por ação do outro lado e seu próprio consentimento – e que, aos poucos, contamina todo o seu comportamento e provoca a destruição de tudo o que se conquistou até então.

Começou com Adão e Eva, prosseguindo com Caim e Abel. Quando os homens resolveram construir a Torre de Babel para tentar alcançar o céu e depois disso se separarem, Javé – o deus bíblico – criou a grande confusão, dando a cada homem uma língua diferente, que ocasionou a falta de entendimento entre eles. E a separação. Cada um foi para um lugar diferente.

Ao vírus da discórdia e da traição foi ainda, acrescentado o vírus da ganância.

E assim, quando Roboão sucedeu a seu pai Salomão como rei de Israel, aumentou exageradamente os impostos, causando a separação entre as doze tribos de Israel: duas – Judá e Benjamin – ficaram com Roboão, que se tornou rei de Judá; as demais se uniram e criaram o reino de Israel, provocando a grande separação entre os hebreus até então unidos.

E a mesma situação se observa no comportamento do homem, principalmente quando se verifica a evolução das religiões no tempo e no espaço.

Na religião cristã: Quando Constantino, imperador romano, percebendo o crescimento dessa religião, sentiu o seu reinado ameaçado, já naquela época, 325 d.C., aplicou um princípio depois enunciado por Maquiavel, atraiu para si os seus inimigos, os dirigentes cristãos, e promoveu o Concílio de Nicéia, unindo-se a eles para gerar a discórdia.

Isso fez com que a cúpula da igreja se dissolvesse e Constantino criasse a religião oficial do estado – com o que não concordaram os verdadeiros discípulos de Jesus.

Na religião muçulmana: Logo depois da morte de Maomé, o profeta, houve uma cisão que persiste até hoje – os sunitas e os xiitas – demonstrando assim o que causa o germe da discórdia. Estes em nome da mesma religião se matam desde aquela época.

O mesmo se observa em todos os grupamentos humanos de qualquer natureza. Os seres se unem por um ideal comum. Começam um trabalho associativo que persiste até que o vírus se infiltra, gerando a discórdia e a separação. É evidente que a infiltração do vírus só se dá com o consentimento pleno do ser humano.

Claramente estamos vivendo tempos de perplexidade, de dubiedade, de incertezas, tempos controversos, de inversão de valores.

E esse comportamento se observa também nas empresas, nos negócios e nas famílias.

Hoje e há tempos, assistimos os cristãos se digladiando na Irlanda em nome de Jesus.

O vírus da discórdia é facilmente observável nas igrejas evangélicas – que na realidade não são “igrejas” mas grupamentos unidos para promoverem a mais abjeta comercialização de um sentimento que é puro em sua origem: a fé.

A própria proliferação destas igrejas evangélicas é uma confirmação disso. Estas foram amplamente disseminadas aqui no Brasil.

Alguns espertos com grande poder de persuasão sentiram que poderiam convencer as pessoas – que estão sempre à procura de uma tábua de salvação – a aceitar uma ilusão e passaram a vender-lhes um lugar no céu. Outorgaram-se títulos, sem nenhum constrangimento.

Depois quando começaram as discórdias separaram-se, cada uma criando a sua própria “igreja”. O único objetivo é a arrecadação financeira.

Camões já dizia com muita competência: “Quando os interesses se chocam cessa tudo o que a antiga musa canta”.

Estas, ditas evangélicas, não podem ser confundidas com as igrejas que resultaram do cisma promovido por Lutero, as igrejas protestantes: a luterana, a batista, a metodista, a adventista e a presbiteriana.

A forma de neutralizar e anular a discórdia e a ganância é por meio do amor verdadeiro, amando ao próximo – verdadeiramente – como a si mesmo, como Jesus ensinou de forma magistral.

Falando em igrejas, há um ponto usado pela igreja católica: perpetuar o sofrimento como apanágio para a “salvação”. Basta verificar como na grande maioria das imagens Jesus é apresentado sofrendo com a coroa de espinhos, carregando a cruz, caindo várias vezes, sempre com expressão de dor. E Ele foi um ser que encarnou com muita propriedade a alegria de viver. Em apenas três anos de atividade pública deixou mensagens que até hoje, e para sempre, servirão de orientação para a humanidade.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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