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Covidofobia ou Síndrome do Pânico?

José Carlos Rosa Pires de Souza e Eduardo de Sousa Martins e Silva (*) | 07/04/2021 13:17

Nestes tempos de pandemia da transmissão do novo coronavírus, desenvolvendo a COVID-19, houve um aumento do número de pessoas com Síndrome do Pânico, confundida com o Transtorno Hipocondríaco e com um quadro que tem sido chamado, popularmente, de Covidofobia. Este último é muito parecido com as crises de pânico, que configuram como características principais do Transtorno de Pânico; este também é chamado de Ansiedade Paroxística Episódica. Trata-se de uma doença que se caracteriza pela ocorrência inesperada, repentina e de forma inexplicável pelo paciente, de crises de ansiedade aguda marcadas por sintomas como medo intenso, desespero, sintomas físicos e emocionais aterrorizantes, como, por exemplo, aperto no peito, aceleração dos batimentos cardíacos, sensação nítida de morte iminente, perda do controle de si mesmo, suor frio, despersonalização (parece que a pessoa está saindo do próprio corpo), desrealização (parece que a realidade externa é estranha), tremores intensos, dificuldade em respirar ou falta de ar, sensação de estar sofrendo asfixia, tonturas, sensação de fraqueza e de calor, calafrio, formigamentos, sensação de entorpecimento, perda de controle sobre os seus pensamentos, necessidade urgente de correr para um pronto-socorro. Muitas vezes a pessoa pensa que está tendo um infarto agudo do miocárdio.

Entre as principais teorias etiológicas, isto é, as teorias que expliquem as suas causas, existem aquelas que defendem a existência de fatores familiares e ambientais, estresse acentuado, uso abusivo de certas drogas como anfetamina, cocaína e álcool. Ainda podem estar envolvidos determinados fatores relacionados à deficiência de neurotransmissores, como a serotonina, noradrenalina e dopamina em certas regiões do Sistema Nervoso Central; esses neurotransmissores também podem estar comprometidos nas depressões. 

Uma vez feito o diagnóstico o paciente precisa ser convencido de que o seu problema não é no seu coração, mas sim neuroquímico e cerebral. Esta é a parte mais difícil do tratamento, pois não há exames laboratoriais disponíveis para mostrarem, objetivamente, ao paciente a deficiência destas três endorfinas ou neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e dopamina). Obviamente, antes de tudo, deve-se descartar qualquer alteração física para se comprovar o diagnóstico de Síndrome do Pânico. No mínimo são feitos, por exemplo, um eletrocardiograma (ECG) e uma avaliação clínica cardiológica. Uma vez descartadas as causas orgânicas dos sintomas relatados, pede-se que o paciente leia sobre Síndrome do Pânico (psicoeducação), em textos escritos por médicos e/ou psicólogos. A seguir, dá-se início ao seu tratamento que deve ser multidisciplinar e integral, feito por profissionais qualificados, através de medicamentos antidepressivos, desde os antigos tricíclicos como a Clomipramina até os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (IRSRs), ansiolíticos e hipnóticos se necessário, de acordo com os sintomas apresentados; psicoterapia cognitivo-comportamental na qual há a exposição a situações que provoquem pânico de forma sistemática, gradual e progressiva, até que ocorra a dessensibilização diante dos fatores e agentes agressores. Não obstante, é importante uma dieta sem cafeína, nicotina e álcool (atrapalham o sono e interferem nos três neurotransmissores citados acima), atividades físicas, culturais, sociais e religiosas, que possam dar entretenimento ao paciente; a família deve ser avisada sobre o diagnóstico e o tratamento, a fim de colaborar da melhor maneira possível com os mesmos. O tempo de tratamento varia de paciente para paciente; porém, o mínimo que se pede é entre 6 a 12 meses, mesmo que clinicamente a pessoa esteja bem. Este tempo é necessário para que, quimicamente, haja um restabelecimento dos índices necessários e fisiológicos dos neurotransmissores comprometidos.

Portanto, as pessoas que apresentarem os sintomas parecidos da crise de pânico, e que já não estejam sob cuidados médicos, devem procurar um serviço de saúde de emergência, a fim de descartar os diagnósticos diferenciais em questão, como Infarto agudo do miocárdio, Pânico ou Covidofobia. Embora esta última possa evoluir, também, com falta de ar intensa, diminuição do paladar e olfato, há sempre a necessidade de um acompanhamento profissional para que se saiba corretamente a causa do problema. Da mesma forma, ressalta-se que o autodiagnóstico de tais patologias deve ser evitado a todo custo por leigos, pois abre brechas perigosas de autotratamento, o qual pode ser ineficaz e prejudicial à saúde, e da piora do quadro clínico.


(*) José Carlos Rosa Pires de Souza é psiquiatra, PhD em saúde mental, especialista em Medicina do Sono e professor do curso de Medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Eduardo de Sousa Martins e Silva é acadêmico do curso de Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

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