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BRICs, um novo paradigma?

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 24/07/2014 09:06

Há 500 anos, grande parte do planeta Terra era praticamente desabitada. A população e o poder se concentravam na Europa. Após as grandes descobertas das terras existentes no novo continente, alguns países se projetaram. como Portugal, Espanha, França, Holanda. Mas o poder mais forte foi parar nas mãos da Inglaterra, por sua grande frota naval, seu avanço industrial e, mais tarde, por ter se tornado a grande praça financeira do mundo.

Durante longo período, a Inglaterra foi a rainha dos mares e das finanças. Após as duas guerras mundiais, com a destruição da Europa e da economia mundial, os Estados Unidos assumiram o comando da reconstrução, introduzindo o dólar como o denominador comum das operações financeiras. Porém, o esperado progresso não aconteceu para muitas regiões.

No Brasil temos hoje uma situação complicada. Tivemos 500 anos de falta de direcionamento e planos de longo prazo. Com a liberação dos escravos, Dom Pedro II perdeu o Império, apesar de sua dedicação ao país. No século seguinte, de República alternada com governo forte, não houve crescimento expressivo. Nos anos 1980 e 1990 ficamos travados diante da crise da dívida externa e explosão inflacionária.

Estamos com grande defasagem tecnológica. As grandes empresas que entraram no país trouxeram pouca tecnologia, optando por aproveitar o mercado com a introdução de sistemas de produção obsoletos ou simples montagem. A população não está suficientemente preparada para a vida e permanece pouco incluída. Não impedimos o avanço do crack, droga mortal que veio para aniquilar as novas gerações. Com a permanência da taxa de juros elevadas e baixo investimento, sempre enfrentamos a preocupante tendência de crescimento da dívida e desindustrialização. Está na hora de dar mais atenção ao país e a sua população!

Aos poucos, a Alemanha foi recuperando o terreno perdido nas guerras e hoje desponta como potência econômica, zelando pela qualidade de vida de sua população, conseguindo até formar a equipe campeã mundial de futebol. No Brasil, deixamos de formar os craques, especiais jogadores de futebol por seu discernimento e destreza. Deixamos de formar boas equipes, aptas para enfrentar o novo futebol ágil, que vai pra frente com passes de bola certeiros; usamos uma tática ofensiva sem estarmos preparados para isso, descuidando da retaguarda. Erro?

Num momento muito especial, a Copa revelou um Brasil diferente do divulgado na imprensa. Muitos turistas e representantes de vários países vieram e gostaram do Brasil e do tratamento alegre e cordial que receberam de sua população. Agora se realiza a reunião dos países do Brics: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul. Esperemos que encontrem formas de impulsionar o progresso de maneira mais humana e mais participativa.

O Japão também tinha tomado a dianteira na industrialização, mas ficou travado com a valorização do yen. Depois do seu desenvolvimento, a Ásia, que permaneceu durante séculos dando prioridade ao setor agrícola, ingressou na era industrial. A China, com o câmbio favorável para exportação, assumiu a liderança enquanto o Japão permaneceu estagnado.

Atualmente, a China, com sua elevada população, busca espaços. Os chineses ingressaram no capitalismo de Estado ao perceberem o grande poder e influência do dinheiro e das finanças, formando elevada reserva em dólares. Estamos diante de complicado tabuleiro onde as peças vão se movimentando e alterando a estabilidade existente no jogo do poder e que poderá alterar a sua atual divisão. No entanto, para o Brasil e outros emergentes, se persistir o antigo modo desequilibrado de participação, tipo colonialista, com uns mandando e o resto se submetendo, pouca coisa vai mudar no manjar, só as moscas.

Agora o mundo se ressente da crise financeira iniciada nos Estados Unidos em 2008, que impôs austeridade e mais aspereza ao mundo. Seria bom se o grupo do BRICS estabelecesse um novo paradigma de desenvolvimento econômico mais inclusivo. Afinal eles representam 28% da economia mundial. Urge sair da era colonialista e fazer acordos para equilibrar importação com produção e exportação, gerando crescimento, empregos, progresso real. Chega de déficits.

China, Índia, países da América do Sul e da África, atravessaram séculos de baixa renda e mercado interno travado. A população desses países tem permanecido estagnada há longo tempo, sem buscar o aprendizado para a vida. Muito pouco foi feito para reverter a situação de penúria dessa gente. Será que o grupo do BRICS conseguirá fazer a diferença? O Brics pode se constituir numa nova ideia destinada a dar um novo equilíbrio na busca do desenvolvimento econômico mais equitativo e humano. Esperemos que assim seja!

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club São Paulo. Realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros “ Conversando com o homem sábio”, “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”, “O segredo de Darwin”, e “2012...e depois?”. E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7

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