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As origens dos acidentes

Por Marcos Alex Azevedo de Melo (*) | 19/03/2019 08:54

Os acidentes não acontecem ao acaso, eles são meticulosamente preparados pela certeza da inação e pela completa omissão humana, seja na inobservância técnica de itens básicos de segurança sobre o funcionamento das coisas, do bom andamento da atividade laboral, profissional, ambiental e do desenvolvimento do trabalho humano em geral; Houve uma fase da história que queriam culpar Deus pelas tragédias ocorridas no mundo terreno. Dois gigantes da literatura e do pensamento universal, Jean Jacques Rousseau e Voltaire, travaram um debate interessante sobre esse tema. Voltaire publicou um Poema Sobre o Desastre de Lisboa, tragédia ocorrida em 1755, que vitimou cerca de 90 mil vidas, no qual indagava: “Ou Deus quis impedir o mal e não pode, ou pode e não quis. Ou mesmo nem quis e nem pode. Se quis e não pode não é Deus: se pode e não quis, não é bom. Jean Jaques Rousseau rebateu, afirmando que “não foi a natureza a culpada, e muito menos Deus que construiu numa área pequena, 20 mil casas de seis ou sete andares”, Ele vai ainda mais além e pergunta, “quantos infelizes pereceram neste desastre, porque quiseram pegar, uns, suas roupas, outra sua papelada, outros, seu dinheiro? ”. É o ser humano no afã de buscar lucros a qualquer preço, que para reduzir custos de produção, encurtar distancias por meio da velocidade que inventaram e que provocam os acidentes.

Tratando-se de Brasil esta é uma verdade incontestável. Em 05 de novembro de 2015 houve o rompimento da barragem da empresa Samarco-joint venture da Vale e BHP Billiton em Mariana, Minas Gerais, deixando 19 mortos, e um prejuízo ambiental incalculável; agora, três anos depois, a mesma Vale, na mesma Minas Gerais, em Brumadinho acontece outro rompimento de barragem, deixando até esse momento 206 mortos e 102 desaparecidos. No triste episódio de Brumadinho, se o ALARME, uma medida simples, muito mais barata que todo o sistema obsoleto de alteamento de barragens de rejeitos da Vale, estivesse funcionando, se as pessoas fossem evacuadas, haveria no máximo a perda de 10 a 15 vidas. Não se pode também menosprezar o fato de terem permitido a Vale construir seus escritórios e refeitórios a jusante da barragem, transformando os seus funcionários em vítimas exponenciais do desastre. Destaca-se, a completa omissão dos gestores dos municípios onde as barragens estão localizadas; os mesmos até esse momento, demonstraram interesses apenas nos royalties gerados para o seus cofres com a exploração de seus solos limítrofes, infelizmente a preparação de ações preventivas estão vagamente amparados no item II, do Art. 4° da Lei 12.334 de 20-09-2010 Lei das barragens, que estabelece: “a população deve ser informada e estimulada a participar, direta ou indiretamente, das ações preventivas e emergenciais”- Os gestores municipais devem assumir o protagonismo na construção de uma rede de proteção e segurança para os seu cidadãos, senão teremos que repetir a cada tragédia a celebre frase de Marques de Pombal após o mesmo terremoto de Lisboa: “Enterremos os mortos, cuidemos dos vivos”. Chega de tragédias.

(*) Marcos Alex Azevedo de Melo é Historiador e ex-vereador de Campo Grande/MS.

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