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A prática do autoextermínio – é possível mudar essa realidade?

Por Janaína de Oliveira Almeida (*) | 04/10/2015 10:00

Para algumas pessoas, em determinados momentos da vida, pensar na morte como a única saída para uma situação de sofrimento intolerável, talvez pareça a única solução possível. Quando uma pessoa se sente no limite, de tal forma
angustiada, desesperada e sem esperança, é compreensível que considere que abrir mão do direito de viver, apesar de constituir uma solução permanente, pareça ser a melhor forma de lidar com uma situação que, naquele momento, é tão
avassaladora e dolorosa. É como se sentisse que está perdida num labirinto completamente escuro, como se todos os caminhos que permitem o acesso às portas de saída deixassem de existir, e que mesmo que tentasse percorrer um
desses caminhos, isso apenas resultaria em mais um esforço inútil, pois não só encontraria as portas completamente trancadas, como não teria disponíveis as chaves adequadas para abri-las.

O suicida é alguém que está sofrendo psiquicamente, alguém que não tem controle emocional da sua conduta, é alguém que perdeu a sua liberdade de expressão, não é uma questão moral, e principalmente não é uma questão espiritual ou religiosa, é uma pessoa que está sofrendo psiquicamente, pois a depressão hoje é uma das grandes causas de suicídio, alcoolismo e drogas... É um indivíduo dotado de sentimentos que só quer se livrar da dor (sofrimento) que está assando. (Edilson Reis, Professor e Pesquisador, 2015).

Por se tratar de um assunto extremamente importante na contemporaneidade, sendo uma expressão das questões sociais objeto de intervenção do assistente social, e diante do alto índice desta prática de autoextermínio que é o Suicídio, é que se fez necessária esta pesquisa, que tem a função apenas de nortear rumos sobre esse assunto, considerado um tabu e que se tornou um caso de saúde pública e de saúde mental.

Os suicídios no Brasil vêm aumentando de forma progressiva e constante: a década de 1980 praticamente não teve crescimento (2,7%); na década de 1990, o crescimento foi de 18,8% e daí, até 2011, de 28,3%. Os últimos dados do Mapa da Violência no País revelam um crescimento de 10% do número de suicídios em Mato Grosso do Sul, fazendo com que nosso Estado ganhe o trágico 3º lugar entre os Estados com maior índice desta prática.

Na atualidade, os fenômenos da depressão e do suicídio encontram-se cada vez mais presentes em todos os espaços sociais, rompendo barreiras de idade, sexo, classe socioeconômica ou cultural, sendo ambos considerados sérios problemas de saúde pública. O transtorno depressivo ocasiona um sofrimento psíquico que interfere, significativamente, na diminuição da qualidade de vida, da produtividade e da capacitação social do indivíduo.

Sigmund Freud, em 1917, em seus estudos sobre o superego se deparou com uma forma de depressão conhecida como melancolia que, segundo ele, diferia do luto em apenas um ponto: não havia necessariamente uma perda para tais indivíduos manifestarem tristeza, senão uma perda narcisista, ou seja, uma perda de si mesmo.

Nem sempre é possível haver clareza sobre quais acontecimentos da vida levaram a pessoa a ficar deprimida. As causas da depressão são múltiplas, de maneira que somadas podem iniciar a doença. Deve-se a questões orgânicas da pessoa, com fatores genéticos somados a fatores ambientais, sociais e psicológicos, como: estresse, estilo de vida, acontecimentos vitais, tais como crises e separações conjugais, morte na família, climatério (menopausa), crise da meia-idade, puerpério, entre outros.

A depressão é uma doença reversível, ou seja, há cura completa se tratada adequadamente. O tratamento médico sempre se faz necessário, sendo o tipo de tratamento relacionado ao perfil de cada paciente. Pode haver depressões leves, com poucos sintomas e com pouco prejuízo sobre as atividades da vida diária.

Nesses casos, o acompanhamento médico é fundamental, mas o tratamento pode ser apenas psicoterápico. Pode haver também casos de depressões bem mais graves, com maior prejuízo sobre o dia-a-dia do indivíduo, podendo ocorrer também sintomas psicóticos (como delírios e alucinações) e idealização ou tentativas de suicídio. Nessa situação, o tratamento medicamentoso se faz obrigatório, além do acompanhamento psicoterápico.

Os vários mitos que a sociedade tem a respeito do suicídio, frequentemente faz com que, as pessoas julguem os suicidas como loucos, os que sobrevivem à tentativa de suicídio são julgados como manipuladores, e o ato de suicidar-se como algo inevitável. Os mitos criam uma situação difícil e são os maiores obstáculos para mudanças de atitudes pessoais, comunitárias e públicas, para aumentar a consciência de que o suicídio, como um problema crítico de saúde pública, é em grande parte evitável.

O apoio emocional e o foco nos aspectos positivos da vida, como a lembrança de problemas anteriores que foram resolvidos, são formas de motivação e auxílio àpessoa em risco. Se não houver melhoras com ações como essa, é importante o encaminhamento a um profissional de saúde mental.

Em suma, percebe-se a necessidade de se criar políticas públicas que resolvam de maneira efetiva as questões do suicídio no Brasil, e principalmente nas regiões onde os índices já são alarmantes, fomentando a discussão para que a
sociedade em geral participe de um debate em prol da vida, de forma a desmistificar e essencialmente informar, estimulando o enfrentamento a essa realidade brutal que atinge a tantas famílias todos os dias.

Existe uma mensagem publicada no site oficina de psicologia que deixa um importante preceito aqueles que ficam: se você teve alguém na sua vida que se suicidou, provavelmente sente culpa e sente que transporta consigo o peso dessa vida perdida. É natural que sinta que podia ter agido de forma diferente, que podia ter feito coisas diferentes. Poderá sentir que deveria ter notado os sinais, talvez reveja constantemente os últimos tempos que passou com essa pessoa, as últimas coisas que lhe disse. Gostaríamos de lhe propor que parasse por um momento e ficasse com esta ideia: uma pessoa que se suicida está em grande sofrimento. 

Enquanto amigos e familiares, podemos fazer o que está ao nosso alcance para demonstrar a importância que a vida dessa pessoa tem para nós. Mas muitas vezes os sinais são difíceis de detectar, e mesmo que os tivesse reconhecido, isso não seria uma garantia de que as coisas teriam sido diferentes. Em último caso, a decisão é sempre da pessoa que comete o ato – a culpa não é sua. A responsabilidade pelo que aconteceu, não estava em suas mãos.

Por fim, há em Campo Grande/MS, O GAV - Grupo Amor e Vida/Prevenção do Suicídio, que tem como Presidente da Diretoria Administrativa a Assistente Social Veralice C. Lima e Coordenação de Divulgação Sr. Roberto Sinai, sem vínculos políticos ou religiosos. E há doze anos realiza um trabalho de profunda escuta e relação de ajuda à sociedade Sul Mato-grossense com empenho humanitário em PREVENIR O SUICÍDIO E VALORIZAÇÃO DA VIDA. Precisando ligue
gratuitamente 141.

(*) Janaína de Oliveira Almeida, Acadêmica do Curso de Serviço Social – Universidade Anhanguera/UNIDERP Polo Guaicuru e estagiária no Hospital Nosso Lar – Setor Ambulatorial

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